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Partida da Monção. Óleo sobre tela (640 x 390 cm) de José Ferraz de Almeida Júnior, 1897. Domínio público, Museu Paulista

Após a Guerra dos Emboabas, os paulistas, impossibilitados de explorar o ouro de Minas Gerais, passaram a buscar novas zonas de mineração, descobrindo-as nos atuais estados de Mato Grosso e Goiás.

Em 1719, a bandeira de Pascoal Moreira Cabral, subindo o Rio Cuiabá à caça de índios, encontrou ouro nas margens do Rio Coxipó-Mirim e, em 1725, a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva descobriu ouro em Goiás. A descoberta de ouro na região marcou o início das monções, expedições fluviais regulares que faziam a comunicação entre São Paulo e Cuiabá.

A palavra monção era usada pelos portugueses para denominar os ventos periódicos que ocorriam na costa da Ásia Meridional. Esses ventos, que durante seis meses sopram do continente para o Oceano Índico e nos seis meses seguintes, em sentido contrário, determinavam a saída das expedições marítimas de Lisboa para o Oriente.

Na colônia, as expedições que utilizavam as vias fluviais foram chamadas de monções não por causa dos ventos, mas por se submeterem ao regime dos rios, partindo sempre na época das cheias (março e abril), quando os rios eram facilmente navegáveis, tornando a viagem menos difícil e arriscada.

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Corredeira na altura da cidade de Araraquara. A geografia dos rios era um dos perigos da viagem fluvial para Cuiabá. Gravura de Johann Baptist von Spix e Carl Friederich P. von Martius, 1817-1820. Domínio público

As monções partiam das atuais cidades de Porto Feliz e Itu, às margens do Rio Tietê, levando em média cinco meses até alcançar as minas de Cuiabá.

No início, as monções transportavam paulistas para as minas cuiabanas, mas logo tornaram-se expedições de abastecimento, isto é, bandeiras de comércio, levando mercadorias para as zonas mineradoras. A população das minas necessitava adquirir tudo que precisava, pois só estava interessada em achar ouro e enriquecer rapidamente.

A viagem era difícil devido às inúmeras corredeiras, febres, insetos venenosos, piranhas e, principalmente, ataques de índios. As canoas eram construídas à maneira indígena, cavadas em um só tronco e muito rasas. As maiores chegavam a transportar até 300 arrobas de carga, e com o tempo receberam toldos para evitar que as provisões se estragassem.

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Os perigos da viagem eram registrados em diários de navegação, como este desenho de 1769, indicando redemoinhos em trecho do Rio Paraná. In: Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, volume 17, nº 2, 2009. Uso amparado pela Lei 9610/98

A tripulação era formada pelo piloto, pelo proeiro e por cinco ou seis remadores que remavam em pé como os índios. A carga ficava no centro da canoa, os tripulantes na proa e os passageiros na popa.

Navegavam entre 8h da manhã e 5h da tarde, quando embicavam as canoas nos barrancos dos rios, armando acampamentos. Alimentavam-se de feijão, farinha de mandioca ou de milho e recorriam à pesca, aos palmitos, frutos e caça.

Com o tempo, por medida de segurança, as viagens passaram a ser feitas em grandes comboios. O número de canoas e pessoas num comboio variava, mas sabe-se que um dos maiores, o do governador de São Paulo, D. Rodrigo César de Menezes, partiu de Porto Feliz com mais de 300 canoas e cerca de três mil pessoas.