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Marquês de Pombal recebendo correspondência que atestava que os jesuítas da colônia americana haviam sido embarcados de volta para Portugal. Litografia (37,9 x 32 cm) de Maurício José do Carmo Sendim. Domínio público, Biblioteca Nacional de Portugal

Rei morto, rei posto! Com a morte de D. João V, em 1750, seu filho D. José I ocupou o trono português.

Para muitos súditos e vassalos, o longo reinado de D. João V assinalou o apogeu do absolutismo em Portugal. Alguns chegavam mesmo a dizer que aquele rei tinha sido o Luís XIV português, comparando o fausto e o poderio de seu reinado aos do soberano francês.

Por um largo período de tempo, o ouro e os diamantes chegados do Brasil criaram a sensação de que a grave crise que o Reino vivera desde a Restauração estava superada. A proteção inglesa, ainda que obtida ao custo de onerosos tratados e concessões comerciais, parecia garantir a estabilidade do império colonial, cuja parte mais significativa era o Brasil.

Mas não era exatamente assim! Antes mesmo da morte de Dom João V, alguns sinais de crise voltaram a se manifestar. Dom José I, o novo soberano bragantino, recebia, portanto, uma pesada herança. Com a finalidade de enfrentar as novas dificuldades que se apresentavam – e que, na opinião de muitos, tendiam a se agravar –, Dom José I escolheu Sebastião José de Carvalho e Melo para o cargo de secretário de Estado.

Aquele que receberia os títulos de Conde de Oeiras e Marquês de Pombal logo ficou conhecido como um dos "déspotas esclarecidos", por entender que a superação das dificuldades que o Reino enfrentava somente seria possível por meio da realização de reformas por um soberano fortalecido, ainda que, para tanto, devesse se apoiar nas novas ideias da Ilustração, que não poupavam críticas a uma ordem política e social já considerada velha. Conforme sublinha o historiador Pedro Octávio Carneiro da Cunha, "o absolutismo era dourado pela Filosofia das Luzes".

Enérgico, cruel e prepotente, Pombal buscou reerguer o combalido Reino, incentivando a agricultura, o comércio, a navegação e a frágil manufatura portuguesa, ao mesmo tempo que protegia os cristãos-novos e reformava a Universidade de Coimbra. Em inúmeras oportunidades, entrou em conflito com membros da nobreza e do clero. Acusados da tentativa de regicídio, alguns nobres foram condenados à morte, enquanto que os padres da Companhia de Jesus foram expulsos do Reino e de suas colônias, em 1759. Voltando seus olhos para o Brasil, Pombal procurou reformar as relações entre a metrópole e a colônia de modo a propiciar o reerguimento do Reino.

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Como se não bastasse a difícil situação econômica de Portugal, um fortíssimo terremoto destruiu grande parte da capital lusitana em 1755. Ao Marquês de Pombal coube encontrar meios de soerguê-la. Gravura alemã do século XVII. Domínio público, Coleção Augsburgische Sammlung

Com a intenção de centralizar e controlar ainda mais a administração colonial, extinguiu as capitanias hereditárias ainda existentes e unificou os Estados do Maranhão e do Brasil, em 1774. Criou o Tribunal da Relação no Rio de Janeiro e juntas de justiça nas demais capitanias reais; criou, ainda, as capitanias fronteiriças de São José do Rio Negro, no extremo norte, e Rio Grande de São Pedro, ao sul, além da capitania do Piauí; e determinou a transferência da capital da colônia da cidade de Salvador, na Bahia, para a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1763.

Esta última medida visava sobretudo a melhor defender e proteger aquela que se tornava, então, a única "porta" de acesso à região das Minas, combatendo o contrabando e os desvios de ouro e diamantes, em um momento em que a redução dos tributos sobre os metais e pedras preciosos já se fazia sentir em função do esgotamento das jazidas. Além disso, a localização da capital na Baía de Guanabara objetivava também facilitar o apoio militar às forças portuguesas nas lutas contra as tropas espanholas em razão da ocupação do litoral meridional.

Aproveitando-se de condições externas favoráveis, como a expansão das fábricas de tecidos na Inglaterra em decorrência da Revolução Industrial e a guerra de independência das Treze Colônias inglesas da América do Norte, Pombal ordenou a criação de duas novas companhias de comércio: a do Maranhão e Grão-Pará e a de Pernambuco e Paraíba. Esta última teve importante papel no incremento da produção de algodão e açúcar. Ao mesmo tempo que foram adotadas medidas para melhor explorar as jazidas auríferas, foi estabelecida a Real Extração dos diamantes. A construção naval foi incentivada, assim como outras atividades de origem agrícola ou animal, como a do anil, a da cochonilha e a de laticínios, devido à atuação do vice-rei Marquês do Lavradio.

Considerados os principais incentivadores da resistência dos nativos aldeados nos Sete Povos à demarcação dos limites do Tratado de Madri, nas Guerras Guaraníticas, os padres jesuítas foram também expulsos dos territórios portugueses na América. Os bens da Companhia de Jesus, em sua maior parte propriedades rurais e urbanas, foram confiscados e leiloados, sendo arrematados por comerciantes e fazendeiros.

A expulsão dos jesuítas do Brasil provocou, de imediato, a desorganização tanto da rede de missões religiosas, em especial no Vale Amazônico, quanto do sistema de ensino da colônia, que os padres jesuítas praticamente monopolizavam por meio de seus colégios e das "aulas de ler, escrever e contar". Pombal determinou a transformação das antigas aldeias indígenas em vilas, dando-lhes nomes tipicamente portugueses, ao mesmo tempo que entregou a administração dos nativos ao Diretório dos Índios.

Para substituir o ensino ministrado pelos religiosos foram criadas as "aulas régias". Eram sustentadas por um novo tributo, o "subsídio literário", e nelas ficava proibida a utilização dos métodos de ensino dos jesuítas. Eram bem claras as determinações régias: "Todo aquele que usar sua escola [...] será preso para ser castigado ao meu real arbítrio, e não mais poderá abrir classe nestes reinos e seus domínios". Era determinado, ainda, que o ensino deveria ser feito exclusivamente em língua portuguesa, maneira de se afirmar a dominação lusitana. A língua tupi, amplamente utilizada nos dois primeiros séculos da colonização, e por essa razão por muitos conhecida como "a língua mais falada na costa do Brasil", passou a ser cada vez menos utilizada, até praticamente extinguir-se o bilinguismo comum na colônia até o século XVIII, em áreas como São Vicente e o Maranhão.

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Planta topográfica do projeto escolhido para a reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755. Em rosa, as áreas arrasadas. Em amarelo, o novo alinhamento das ruas. Litografia colorida (57 x 83 cm) de 1947, baseada em original de 1758. Uso amparado pela Lei 9610/98, Museu da Cidade

Execrada por muitos, exaltada por outros, a administração do Marquês de Pombal (1750-1777) marcou profundamente as vidas de colonizadores e colonos, assim como a dos colonizados. Como outros "déspotas esclarecidos", Pombal realizou portentosas obras arquitetônicas e protegeu artistas e literatos. Em Lisboa, deixou sua marca ao reconstruir a cidade após o terremoto de 1755. No Reino e no mundo colonial, patrocinou obras de arte que defendiam as ideias ilustradas e, ao mesmo tempo, perpetuavam sua memória. Foi o caso do poema épico O Uraguay, de autoria do mineiro José Basílio da Gama. Nele, o papel de personagem principal e herói cabe ao próprio Pombal, que aparece como o representante das forças da razão e das luzes contra o obscurantismo personificado nos padres da Companhia de Jesus.

Quando Dom José I faleceu, em 1777, os grupos descontentes com a administração do Marquês de Pombal articularam sua demissão. Com a "viradeira", tinha início o reinado de Dona Maria I.