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A aclamação de D. Pedro I no Campo de Santana. Água-forte aquarelada de Félix Émile Taunay (32,9 x 34,6 cm). Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

No dia 12 de outubro de 1822, no Campo de Santana, região central da cidade do Rio de Janeiro, um grande número de pessoas recebia D. Pedro, de perfil controverso, que voltara de São Paulo. Aplaudia delirantemente o momento da aclamação daquele que, de príncipe regente, transformava-se em imperador constitucional e defensor perpétuo do Brasil.

Pelas vielas e ruas da cidade do Rio de Janeiro misturavam-se o repique dos sinos e os gritos entusiasmados da população. Em meio à rotina do dia a dia, as conversas fervilhavam no vaivém nos mercados ou nas lojas de comércio a varejo. Naqueles dias agitados, o contentamento expressava-se também em versos repetidos aqui e ali:

"Sabiá cantou na mata
Eu cantei no meu terreiro
Viva o rei do Brasil
Viva D. Pedro I”.

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A coroa e o cetro de D. Pedro I. Aquarela (15 x 21,2 cm) de Jean-Baptiste Debret, 1822. Domínio público, Museus Castro Maya

Em 1º de dezembro, um outro fato ocorria cercado de agitada esperança: a solenidade da coroação de D. Pedro I, envolvida em pompa absolutista. Apresentava-se, então, uma tarefa nada fácil de ser realizada: organizar politicamente o nascente Estado.

Contudo, as forças políticas que haviam conduzido o processo de emancipação, desejando manter suas posições já conquistadas, agora divergiam: império ou república? Unitarismo ou federalismo? Constitucionalismo ou absolutismo?

Foi nesse clima de desavenças, pontuadas por desconfianças e interferências de outros fatores – como a presença do chamado Partido Português –, que se impunha organizar politicamente o novo Estado. Uma Assembleia Constituinte já havia sido convocada em junho de 1822, como forma de resistência à pressão das Cortes portuguesas no sentido de recolonizar o Brasil.

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A Rua Direita (atual Primeiro de Março) era o logradouro mais movimentado da época, o coração comercial da cidade. Aquarela sobre papel (17,7 x 23,6 cm) de Félix Taunay. Domínio público, Pinacoteca do Estado de São Paulo

Em 17 de abril de 1823 tiveram lugar as sessões preliminares. No dia 3 de maio, reunia-se a Assembleia Constituinte, em solenidade no Rio. A cidade, em expectativa, se preparara cobrindo suas ruas principais com folhagens e flores. Os balcões e janelas das moradias ostentavam, em clima barroco, colchas de damasco e cetim.

D. Pedro I, dirigindo-se "aos dignos representantes da nação", declarou: "É hoje o dia maior que o Brasil tem tido; dia em que ele pela primeira vez começa a mostrar ao mundo que é império, e império livre".