4 pedro I t
D. Pedro I nomeou um novo presidente para Pernambuco e acabou deflagrando o movimento separatista conhecido como Confederação do Equador. Gravura (41,2 x 32 cm) de Giuseppe Gianni, 1830. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Com o clima tenso que se instaurou em Pernambuco após a dissolução da Assembleia de 1823 e a divulgação da Constituição Outorgada de 1824, D. Pedro I nomeou um novo presidente para a província – Francisco Pais Barreto –, destituindo Manuel Paes de Andrade, que fora escolhido pelas Câmaras de Olinda, Recife, Igaraçu, Pau-d'Alho, Cabo, Limoeiro e Serinhaém.

Essa decisão abriu caminho para o início do movimento separatista que ficou conhecido como Confederação do Equador. Seus participantes, apresentando-se como "patriotas pernambucanos", discordaram dessa medida do imperador, considerando-a autoritária. O movimento ganhou ímpeto, desafiando o poder central, espalhando-se pelas ruas de Recife, inclusive contando com a adesão de alguns estrangeiros.

A revolta, de conteúdo "antilusitano", teve como líder Manuel de Carvalho, que participara ativamente da Revolução de 1817 e que, por conta disto, fora exilado nos Estados Unidos da América, tornando-se grande admirador daquele país. Em 2 de julho de 1824, Manuel de Carvalho proclamou a Confederação do Equador, uma nova república na América, que deveria unir, num mesmo Estado, todas as províncias da Bahia até o Grão-Pará.

O Manifesto da Proclamação da Confederação do Equador declarava, entre outros pontos, que "salta aos olhos a negra perfídia, são patentes os (...) perjúrios do Imperador". Ficava bem clara a ideia que os participantes faziam do monarca, e temiam os rumos que o Império tomaria após a outorga da Constituição de 1824.

panfleto t
Trecho de panfleto manuscrito, distribuído à população pelos revolucionários: melhor "sofrer mil mortes" do que ser "escravo de déspotas tiranos". Domínio público, Arquivo Nacional

A tensão aumentava nesse movimento acentuadamente urbano e popular, de caráter mais democrático do que os anteriores movimentos nativistas. Era, por exemplo, muito diferente da Revolução Pernambucana de 1817, liderada por proprietários de escravos e de terras, comerciantes locais e muitos militares, que entendiam estar sendo explorados pelos portugueses da "nova Lisboa".

Na descrição da viajante Maria Graham, o ambiente na província pernambucana, guardadas as proporções, era semelhante ao que se sentia na França no tempo da Revolução Francesa. Muitos olhos espreitavam e muitos ouvidos permaneciam atentos, pelos cantos, sempre à espera de armadilhas e traições.

Para organizar o Estado que surgia convocou-se uma Assembleia, que elaborou um projeto constitucional que priorizava o Poder Legislativo. Suspendia também o tráfico negreiro no porto de Recife "até que a soberana Assembleia resolva este negócio", considerando ser este "um comércio que está em completa oposição com os princípios do Direito Natural e as luzes do presente século".

2 Casa Grande t
A casa-grande acabou rompendo com a Confederação do Equador, movimento que foi ganhando contornos cada vez mais populares e radicais. Desenho aquarelado publicado em Casa-Grande, Our House, na década de 1840. Domínio público

Esse ponto, porém, causou um fracionamento no movimento, pois atingia em cheio os poderosos interesses locais, como já ocorrera em 1817. Por outro lado, a participação de camadas populares – homens livres, pretos, mulatos e militares de baixa patente – colocou em pauta outros enfoques, que alarmaram a população branca que compunha a elite local.

Com o radicalismo ganhando espaços maiores, a classe dominante, que aderiu ao movimento, recuou, rompendo a união que mantinha com a Confederação. Assim como em 1817, não era apenas o governo imperial que se sentia ameaçado, mas os interesses locais dos proprietários de escravos e de terras, dos comerciantes portugueses, dos burocratas...