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No fim da década de 1820, gritos de contestação ao imperador eram bradados nos principais pontos do Rio de Janeiro. Chafariz da Carioca em detalhe de aquarela de Thomas Ender, 1817. Domínio público, Academia de Belas Artes de Viena

Pelas ruas das cidades – em meio à circulação de escravos e homens livres e pobres que perambulavam ocupando-se de trabalhos nem sempre lícitos – ouvia-se "mata português" e "mata marinheiro". Esses gritos de contestação também eram dirigidos a D. Pedro I, encarado como protetor daqueles comerciantes reinóis.

Na imprensa, a pessoa do imperador não era menos poupada. O jornalista Borges da Fonseca chamava-o de "caríssimo", não no sentido de ser querido, mas no de ser dispendioso para o Tesouro.

Toda essa intranquilidade visível nas ruas da cidade inquietava igualmente aquela parcela da população livre e proprietária, que pressentia uma desordem ameaçadora.
Os descontentamentos iam aprofundando os abismos e liquidando o pouco que restava de simpatia pelo imperador entre os brasileiros.

D. Pedro I, contudo, não estava sozinho para enfrentar a oposição movida pelo Partido Brasileiro. Contava com o apoio do Partido Português, que ampliara sua influência, bem como dos proprietários de escravos e de terras, beneficiados com vantagens e títulos honoríficos fartamente concedidos.

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O conselheiro e fiel secretário particular de Pedro I, Francisco Gomes da Silva, o Chalaça. Óleo sobre tela de Simplício Rodrigues de Sá, c. 1800-1839. Domínio público, Museu Histórico Nacional

Na corte comentava-se muito a influência exercida na direção dos negócios públicos por um "gabinete secreto", conduzido pelo conselheiro Francisco Gomes da Silva, o Chalaça. Falava-se também que José Clemente Pereira tramava a restauração do absolutismo. A sociedade secreta Coluna do Trono também pretendia o absolutismo, contando com o apoio dos portugueses que nela viviam. A impopularidade de D. Pedro I se expandia. No Nordeste, na surdina, revelava-se em versos que diziam:

"Acabamos assim,
Morram todos os corcundas
Do Icó, Crato e Jardim".

Pretendendo contornar a oposição, em fevereiro de 1829 o imperador chamou o Marquês de Barbacena para organizar um novo ministério. Apesar de parecer, agindo assim, que cedia aos que desejavam um governo parlamentar, D. Pedro I não se afastara dos interesses dos que o apoiavam. Enviou à Europa o Marquês de Santo Amaro, com a missão de obter o apoio da Santa Aliança para reconquistar a Província Cisplatina e para restaurar os direitos de sua filha D. Maria da Glória ao trono de Portugal, que foram usurpados por seu tio e esposo D. Miguel.

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O jornalista Evaristo da Veiga, eleito deputado por Minas Gerais em 1830, defendeu, no jornal Aurora Fluminense, a posição de que a queda de Carlos X, rei absolutista francês, naquele ano, deveria representar a restauração da liberdade no mundo inteiro. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Em meados de setembro de 1830 chegava ao Rio de Janeiro a notícia de que, na França, uma revolução de caráter liberal derrubara Carlos X do trono, dando lugar ao governo de Luís Felipe. O fato repercutiu no Brasil, animando a oposição na imprensa e na Câmara. O jornalista Evaristo da Veiga escreveu no Aurora Fluminense que aquele ano era "o da liberdade não já na Europa, mas no mundo inteiro". Na Câmara, Bernardo Pereira de Vasconcelos afirmava que a França salvara "a liberdade do mundo civilizado". Acrescentava também que iria pedir "ao povo para que resista em massa contra toda a invasão que houver em dano das suas liberdades e dos seus direitos e também para derribar as cabeças que ainda tentarem sujeitá-lo à escravidão". O gabinete do Marquês de Barbacena foi demitido em meio a esses acontecimentos.