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D. Maria Leopoldina, esposa de D. Pedro, em detalhe de óleo sobre tela de 1815 (Crédito: Joseph Kreutzinger/Scönbrunn Palace, Viena)

Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena (1797-1826), arquiduquesa da Áustria e esposa do regente D. Pedro (1798-1834), mantinha extensa correspondência com sua família europeia. Em trechos de cartas, datadas de 23 de junho e de 8 de agosto de 1822, endereçadas a seu pai, Francisco I da Áustria (1768-1835), é possível perceber contornos sutis da situação política reinante: “Querido Papai: A oportunidade permite-me (...) escrever-vos (...). Aqui tudo é confusão, por toda a parte dominam os princípios novos, da afamada Liberdade e Independência. O meu marido, que infelizmente ama tudo que é novidade, está entusiasmado, como me parece, e terá no fim que espiar tudo (...). Depois de todas as notícias (...) a nossa viagem para a Europa torna-se impossível (...) seria a maior ingratidão e o mais grosseiro erro político se todos os nossos esforços não tendessem a garantirmos uma justa liberdade, conscientes da força e grandeza deste belo e florescente Império (...) que (...) poderá (...) com o tempo, ditar leis. (...) Beijo-vos (...) as mãos (...) vossa filha obediente, Leopoldina”.

O retorno de D. João VI (1767-1826) a Portugal, pressionado pela vitoriosa Revolução do Porto e pelas medidas recolonizadoras adotadas pelas Cortes de Lisboa (que tentavam, ainda, limitar o poder do regente D. Pedro), definiu outra situação: a da união das forças políticas brasileiras contrárias às medidas adotadas pelo órgão legislativo português. 

Quanto mais a intenção sobre a recolonização não deixava dúvida, mais a ideia de independência ganhava força entre as forças políticas brasileiras que se articulavam. E essa ideia praticamente foi alcançada no chamado Dia do Fico (9 de janeiro de 1822), quando D. Pedro recusou-se a obedecer à ordem de retornar a Portugal; a Independência, próximo passo, seria formalizada com o Ato do Ipiranga, em 7 de setembro de 1822. A cidade do Rio de Janeiro, que no dia 26 de abril de 1821 ficara sem rei, quando D. João VI regressou a Portugal, mantinha o status de capital, naquele momento de outro império: o do Brasil.

Novas situações, outras perguntas. Haveria espaço para tudo e para todos? Em algum recanto do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, cidade novamente corte, alguém, citado pelo historiador Pedro Calmon, alheio aos questionamentos e desejando viver em uma cidade diferente, recitava alegre e despreocupadamente:

“Sabiá cantou na mata,
Eu cantei no meu terreiro:
Viva o Rei do Brasil,
Viva Dom Pedro Primeiro!”.