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Aílton Krenak, um sujeito coletivo
13 Agosto 2020 | Por Larissa Altoé
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Aílton Krenak em entrevista ao #educa, da MultiRio

Avesso a personalismos, Aílton Krenak está interessado em modos de convivência que permitam aos seres humanos usufruírem da experiência de viver, sem destruir a natureza da qual fazem parte. Em 2019, Aílton lançou pela Cia das Letras, Ideias para adiar o fim do mundo, que foi publicado também na França, Argentina, Canadá e, em breve, na Itália.

Como contou no #educa, da MultiRio, a partir desse livro, ele  começou a questionar as bases da racionalidade ocidental, como fez, inclusive, durante a entrevista com Rosangela Coelho, na qual perguntou: por que a escola que tem êxito costuma separar as crianças de suas famílias de origem?, por que o ser humano se vê como uma espécie autônoma em relação ao ambiente onde está inserido e, em última instância, ao planeta Terra?, por que considerar cultura algo distinto do humano e atrelá-la aos meios de produção e a especialistas? Aílton não traz respostas prontas. Na verdade, propõe um pensar crítico sobre conceitos como humanidade e sustentabilidade.

Tais questionamentos produziram outras duas publicações em 2020, também pela Cia das Letras, os livros A vida não é útil e O amanhã não está à venda. Este último pode ser lido e baixado gratuitamente no site da Amazon. Os textos das três obras são adaptações de palestras, entrevistas e lives de Aílton Krenak entre 2017 e 2020.

O Portal MultiRio reúne abaixo alguns trechos importantes da trajetória de Aílton Krenak para que a comunidade escolar possa conhecer um pouco sobre esse pensador indígena brasileiro, bem como suas lutas em prol da dignidade de seu povo. Indígenas não fazem parte apenas do passado colonial. Estão vivos, propondo uma nova maneira de encararmos a história e vivermos o presente com mais harmonia.

Bacia do rio Doce (Watu)

Aílton nasceu em 1953, junto ao córrego de Itabirinha, Minas Gerais. A região faz parte da bacia do vale do rio Doce, que os Krenak chamam Watu (fala-se, 'úatu'). Os Krenak são um grupo indígena remanescente dos chamados botocudos, nome dado a eles pelos colonizadores devido aos botoques que usavam nos lábios e orelhas.

Na época que Aílton era criança, o desmatamento e a instalação de fazendas de gado obrigaram sua família e parentes a migrar. Com o pai e tios, Aílton foi para São Paulo, onde frequentou o primário em uma escola pública. Aos 19 anos, fez um curso de Artes Gráficas no Senai. Nessa época, começou a se perguntar  onde estavam os outros indígenas do Brasil e por que não se organizavam para defender o seu modo de vida frente a violências de todo o tipo, incluindo assassinatos.

Iniciou, então, uma militância pelos direitos indígenas - território, cultura, saúde etc., até que em 1984, ele e outros líderes indígenas criaram a União das Nações Indígenas, um conselho para discutir problemas e trocar experiências. Sua geração, como escreveu o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, foi a primeira a reivindicar o direito de existir sem ser integrada ao pacote civilizatório ocidental, mantendo uma identidade própria.  

Assembleia Nacional Constituinte

A União das Nações Indígenas encaminhou em 13 de agosto de 1987 uma Emenda Popular ao projeto de Constituição que estava em curso, propondo a elaboração de um capítulo sobre as populações indígenas. Aílton Krenak representou a entidade na tribuna do Congresso, em 4 de setembro de 1987, fazendo um discurso em defesa da Emenda Popular. A ação de Krenak na Assembleia Constituinte contribuiu para a aprovação dos artigos 231 e 232 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que reconhece a organização social dos índios e os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Até esse marco legal, os indígenas eram tutelados oficialmente pelo Estado Brasileiro, ou seja, eram considerados incapazes de gerir a própria vida.

Aílton Krenak participou ainda da organização da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que buscou o estabelecimento de reservas naturais na Amazônia, onde fosse possível a subsistência econômica por meio da extração do látex da seringueira, bem como da coleta de outros produtos da floresta.

Desde 1998, acontece na região da Serra do Cipó, em Minas Gerais, o Festival de Dança e Cultura Indígena, idealizado por Aílton. O festival promove a integração entre diferentes populações indígenas. Esse local é especial para ele por muitos motivos, um deles é que abriga nascentes do rio  Doce (Watu).

O Governo Federal concedeu a Aílton Krenak a Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República em 2015 e a Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, outorgou-lhe o título de doutor honoris causa em 2016. Nessa ocasião, ao agradecer em público, ele disse que só mantinha a serenidade diante de tanta celebração por saber que não era um sujeito no sentido singular da palavra. “Eu sou um sujeito coletivo. O fato de ter me dedicado desde muito cedo a olhar em torno de mim, reconhecer as realidades que me circundavam, pensar o que eu podia fazer para ajudar a melhorar essas realidades e fazer o que podia, resultou na biografia de alguém chamado de importante liderança indígena no nosso Brasil”.

Fontes:

Revista Chico (Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco)

Giz (revista de Antropologia da USP)

Estudos Avançados (USP)

Vozes da Floresta

Cia das Letras

Funai (política indigenista)

Documentário O Sonho da Pedra, de Marco Altberg, 2018.

 
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