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Escolas mirins do Rio: onde o samba começa
18 Fevereiro 2014 | Por Luís Alberto Prado
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coracoes unidos_do_ciep_03O desejo de se criar uma escola de samba mirim na cidade do Rio de Janeiro vinha desde 1979, data que o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) estabeleceu para se comemorar o Ano Internacional da Criança, com o intuito de alertar a população mundial para os problemas que afetavam as crianças de até 7 anos no mundo inteiro.

Porém, somente em agosto de 1983, Arandi Cardoso dos Santos, o Careca do Império Serrano, tomou para si a responsabilidade e fundou o que hoje conhecemos como o Império do Futuro, a primeira a integrar o “berçário” de futuros bambas.

Pode-se até imaginar que, a partir dessa iniciativa, as grandes escolas apoiariam prontamente o movimento. Porém, não foi bem assim que aconteceu.

Segundo Maria das Graças Carvalho, vice-presidente da Associação das Escolas Mirins da Cidade do Rio de Janeiro (Aesm-Rio) e ex-presidente da Estrelinha da Mocidade, houve todo tipo de resistência – de autoridades, do poder público e pessoas ilustres ligadas ao carnaval, a maioria contrária à ideia. “Em contrapartida, os que mais colaboraram para se driblar a má vontade reinante foram os cantores Roberto Ribeiro, Alcione e Martinho da Vila.”

Com a bênção dessa trinca de ouro do mundo do samba, rompeu-se a barreira e, em 1984, a Império do Futuro desfilou pela primeira vez na Sapucaí. De acordo com o compositor Edson Marinho, presidente da Aesm-Rio, somente quatro anos depois é que foi fundada a entidade representativa das escolas mirins, a Liga Independente das Escolas de Samba Mirins (Liesm). Já a criação da Associação das Escolas de Samba Mirins data de 26 de junho de 2002. Hoje, o carnaval dos pequenos conta com o apoio da Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) e da Riotur.

Na opinião de Edson, também presidente da Ala de Compositores da Estácio de Sá, muitas dificuldades estavam pelo caminho. “Entre elas, a falta de reconhecimento de um trabalho pautado na inclusão e na educação; e, principalmente, a ausência de recursos financeiros para se colocar o carnaval na avenida”, desabafa.

Sambando na avenida

Hoje, vencidos todos os obstáculos iniciais, as 16 escolas vão animar os 700 metros da Passarela do Samba, no dia 4 de março (terça-feira), a partir das 17h. Integrantes de 5 a 17 anos encararam a empreitada com disciplina, dedicação e muito samba no pé.

Segundo a vice-presidente da Aesm-Rio, para uma criança ou um jovem desfilar numa escola mirim, é necessário que alguns requisitos sejam cumpridos, sendo permitido o ingresso somente com a documentação, autorização dos pais e aprovação do juizado de menores. “Além disso, é preciso estar matriculado e estudando em escola pública ou privada, ter obtido a aprovação no ano letivo anterior e frequentar os encontros (ensaios), para ter o samba na ponta da língua”, explica Graça.

Como não poderia deixar de ser, os materiais utilizados nas confecções de fantasias e alegorias são basicamente os mesmos que as grandes escolas usam para desenvolver seus carnavais. Além disso, a criação de enredo e dos respectivos sambas que as agremiações vão defender também é tarefa de seus jovens integrantes, tal qual na escola-mãe.

“Os componentes aprendem, em termos educativos, muito com os desfiles. Porque a eles é apresentado um tema (enredo) e, na maioria das escolas, as sinopses e os sambas são desenvolvidos a partir de pesquisas realizadas pelas crianças das respectivas escolas”, observa Edson Marinho, acrescentando ainda que, quando os sambas são inéditos, a escolha acontece por meio de eliminatórias.

Na confecção de fantasias, alegorias e adereços segue-se o padrão das escolas-mãe, com a preocupação de se escolher produtos adequados.

“A questão do meio ambiente está sempre presente na hora de preparar as fantasias e os adereços nas escolas de samba mirins. Por isso, a maioria delas dá muita importância ao reaproveitamento de materiais, gerando uma consciência ambiental”, explica o presidente da associação.

Já Maria das Graças complementa o tema dizendo que há uma enorme preocupação em relação à seleção dos materiais utilizados.

“Procuramos trabalhar reaproveitando tudo o que podemos no carnaval mirim, porque diante da crise pela qual estamos passando, tem que se tirar da cabeça o que não se tem no bolso, como dizia o carnavalesco Fernando Pamplona, recentemente falecido.”

Berço de bambas

Tal qual o futebol, as escolas de samba mirins da cidade do Rio de Janeiro vêm se transformando em berço de bambas, revelando, a cada geração, artistas que enobrecem o nosso carnaval. Como exemplo, nomes conhecidos nacionalmente, como o do cantor e compositor Dudu Nobre, que iniciou sua trajetória em 1984, na já extinta Alegria da Passarela, como autor de sambas de enredo; e sua irmã Lucinha Nobre, primeira porta-bandeira da Mocidade Independente de Padre Miguel, que também começou a desfilar nessa escola, no mesmo ano.

Da Alegria da Passarela, hoje conhecida como Aprendizes do Salgueiro, surgiram o cantor e produtor Leonardo Bessa; Julinho, primeiro mestre-sala da Unidos da Tijuca, que começou na Corações Unidos do Ciep – escola que lançou, entre outros, o mestre-sala Sidclei e o Mestre Chuvisco, diretor de bateria da Estácio de Sá; e, ainda, Anderson Leonardo (do grupo Molejo) e Mestre Marcão (diretor de bateria do Salgueiro).

A porta-bandeira Marcela Alves foi outra que começou em escola mirim, na Infantes do Lins, assim como sua antecessora, Bárbara Marcele. Outro bom exemplo desse caminho é Pretinho da Serrinha – para o compositor, músico, arranjador e comentarista de carnaval nas transmissões da TV Globo, tudo começou durante os ensaios da Império do Futuro.

 
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