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História dos meios de transporte urbano público do Rio de Janeiro
17 Agosto 2021 | Por Márcia Pimentel
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Liteira utilizada no Rio de Janeiro no início do século XIX. Jean Baptiste Debret, dp

Vencer distâncias e transportar coisas de um ponto a outro sempre foi uma necessidade das sociedades humanas. Sem formas de locomoção não teria sido possível estabelecer, por exemplo, sistemas de comércio. Não à toa, ainda no período Neolítico, o homem aprendeu a domar animais para utilizá-los como meio de transporte e a fazer embarcações para levar cargas e pessoas. Com a invenção da roda, surgiram as primeiras carroças movidas à tração animal, melhorando a comunicação entre os grupos sociais.

Período colonial

Documentos históricos indicam que, na Roma Antiga, já havia serviços de aluguel de cavalos e de liteiras transportadas por escravos. No Rio de Janeiro – do período colonial às últimas décadas do século XIX –, também, com a diferença de que, além de liteiras, ainda havia redes e cadeirinhas. Elas só eram, contudo, utilizadas em percursos mais curtos.

Segundo dissertação de Mestrado de Edilson Nunes dos Santos Junior, até as primeiras décadas dos anos 1800, o meio de transporte mais utilizado no Rio de Janeiro para percorrer longas distâncias eram os barcos. Havia pontos para atracação de embarcações por toda a Baía de Guanabara, a exemplo de Inhaúma, Penha, Glória, Botafogo, Caju, São Cristóvão e Ilha do Governador, entre outros. Isso sem citar os cais da região central: Valongo, Prainha, Mercado do Peixe, Mineiros e Praia de D. Manuel, sendo que, destes dois últimos, partiam embarcações para Magé (Porto Estrela) e Niterói.

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Movimento de embarcações na Enseada da Glória, na segunda metade do século XVIII. Leandro Joaquim, MHN, dp

Parte dos barcos que circulavam pela Baía de Guanabara era para uso exclusivamente particular. Mas muitos podiam ser contratados por serviço de aluguel (como se fosse um táxi), tanto para transportar pessoas como cargas. A montaria a cavalo, as charretes e os carros de boi também eram usados regularmente, principalmente no interior da cidade, onde não tinha acesso à Baía de Guanabara. No Centro, muitas carroças também eram utilizadas para fazer o serviço de carga.

Conforme publicação da Vice-Reitoria para Assuntos Acadêmicos da PUC-Rio, durante o período colonial, eram os moradores mais endinheirados da cidade que faziam uso desses meios de transporte. Os pobres andavam a pé.

Transporte público

Com a chegada da Corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, a cidade cresceu rapidamente. A demanda por um sistema de transporte público, com horários regulares, que melhorasse a mobilidade urbana, passou a ser cada vez mais necessário. Veja como isso aconteceu no decorrer do século XIX.

Diligências – Primeira concessão pública de transporte da cidade, dada por D. João VI em 1817. Fazia o trajeto Centro-Palácio da Boa Vista (São Cristóvão)- Fazenda de Santa Cruz e, inicialmente, tinha o objetivo de transportar o malote do correio e conduzir as pessoas que quisessem ter a honra de beijar a mão de Sua Alteza.

Pouco antes de 1850, já havia linhas de diligências para Botafogo, São Cristóvão e Tijuca. Na década de 1860, várias empresas faziam o serviço, inclusive para outros bairros. Alguns desses veículos chegaram a dividir espaço com os bondes, que chegaram em 1868.

Ônibus e gôndolas – Primeiro ônibus a chegar ao Rio de Janeiro. Tinha quatro rodas, dois andares, era puxado por quatro animais e podia levar até 23 passageiros. A concessão foi dada em 1837, mas só começou a circular no ano seguinte, fazendo os trajetos entre a Praça Tiradentes e os bairros de Botafogo, Tijuca (Engenho Velho) e São Cristóvão. Com a chegada dos bondes deixou de circular pelo Centro.

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No início do século XX, os ônibus tipo gôndola ainda circulavam em bairros do subúrbio do Rio. Revista Fetranspor 26, dp

Com concessão pública datada de 1838, as gôndolas eram ônibus menores puxados por um par de mulas e com capacidade para nove passageiros. Sua estação principal ficava no Largo do Moura, nas proximidades da Praça XV. Em 1865, tinha oito linhas em atividade: Cidade Nova, Catumbi,

Livramento (Gamboa), Botafogo, São Clemente, General Polidoro, Jardim Botânico e Laranjeiras. Também deixou de circular pelo Centro com a chegada dos bondes, mas ainda podiam ser vistas trafegando pelo subúrbio, no início do século XX.

Em 1908, começou a circular o primeiro ônibus movido por motor a combustão, ligando o Passeio à Praça Mauá. As linhas foram aumentando aos poucos e, após a II Guerra Mundial, começaram a dominar o sistema de transporte público na cidade.

Barcas – Em 1835, durante o período da Regência, foi dada concessão pública para fazer a travessia da Baía de Guanabara, entre o Cais Pharoux (atual Estação das Barcas) e a Praça Martim Afonso (atual Praça Arariboia). O trajeto era feito em barco a vapor, com capacidade para 250 passageiros. Em 1852, novas linhas foram criadas, ligando o Largo do Paço (atual Praça XV) à Praia de Botafogo, Ilha do Governador, Paquetá, Catete e Inhaúma.

Após passar por várias empresas, o serviço hoje opera com linhas que ligam a Praça XV a Niterói, Cocotá (Ilha do Governador), Paquetá e Charitas (atualmente suspensa por causa da pandemia).

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Os tílburis eram muito populares no século XIX e início do XX. Gustavo Dall'Ara, 1918, Museu da República

Tílburis – Uma espécie de serviço de táxi que começou a circular em 1846. Tratava-se de um carro pequeno de duas rodas e dois assentos (um deles para o condutor), puxado por um só animal e com tarifa pré-determinada (preço por hora). No Centro, os tílburis faziam ponto na Rua Direita (atual Primeiro de Março). Como eram relativamente baratos e rápidos, tornaram-se bastante popular. Com o crescimento da indústria automobilística, no século XX, surgiram os táxis motorizados.

Trens – Foram o primeiro transporte de massa do Rio de Janeiro. O trajeto inaugural da Estrada de Ferro D. Pedro II ocorreu em 1858, entre a Estação da Aclamação (atual Central do Brasil) e Queimados, com transporte de cargas e passageiros. No mesmo ano também foram inauguradas as estações Engenho Novo e Cascadura e, nos anos subsequentes, várias outras entraram em operação.

No decorrer do século XIX, surgiram outras vias férreas, entre elas a Rio d’Ouro, aberta em 1883 para levar os materiais necessários à construção de uma nova rede de abastecimento de água entre a Serra do Tinguá, em Duque de Caxias, e o Caju. A via férrea foi desativada em 1970, mas parte de seu leito foi cedida para a construção da Linha-2 do Metrô.

A E. F. Leopoldina Railway foi inaugurada em 1898, no início período republicano, ligando o Rio de Janeiro a Porto Novo (atual cidade de Além Paraíba, em MG). A ferrovia abriu várias estações urbanas na cidade, dando origem ao termo “Subúrbio da Leopoldina” ao conjunto de bairros cariocas pelos quais sua linha atravessava.

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Linha Madureira-Irajá, 1926. Foto: Augusto Malta, Museu Afro Digital, dp

Bondes – Após algumas tentativas mal sucedidas, os bondes puxados a burro começaram a funcionar a plenos pulmões em 1868, com a inauguração da primeira linha entre a Rua Gonçalves Dias e o Largo do Machado. Tinham capacidade de transportar cerca de 12 passageiros e, rapidamente, os trajetos se expandiram para as zonas Sul, Norte e Oeste. O nascimento de vários novos bairros só foi possível em função da aliança entre empresários de bondes e empreendedores da construção civil.

Em 1892, entraram em circulação os primeiros bondes elétricos da cidade.  Eram baratos e bem mais rápidos que os bondes puxados por tração animal. Aos poucos, foi instalada uma infinidade de linhas que cortavam todas as zonas da cidade. Alguns bairros eram servidos por várias delas, de forma que o usuário podia escolher qual o deixaria mais perto de casa.

A retirada dos bondes de circulação ocorreu na década de 1960. Hoje, circulam apenas no bairro de Santa Teresa.

Metrô – A inauguração das primeiras estações da Linha 1 ocorreu em 1979, ligando a Glória à Praça XI. Com a expansão do trajeto para novos bairros e com o início da operação da Linha 2, em 1984, o transporte de massas do Rio de Janeiro foi impactado. A Linha 4 foi inaugurada em 2016,  levando o metrô até a Barra da Tijuca.

BRT – O Bus Rapid Trafic  (BRT) foi introduzido em 2012, com o objetivo de promover um meio de transporte de massa mais sustentável. Trata-se de um ônibus de grande capacidade, com dois módulos, que opera em faixas segregadas na superfície. O intuito é reduzir as emissões de carbono na atmosfera e tornar o deslocamento do usuário mais rápido. Segundo artigo publicado pelo XXVIII Congressdo de Pesquisa e Ensino em Transporte, a tecnologia utilizada no BRT se prova 14 vezes menos poluente que o carro ou dua vezes menos que os ônibus convencionais

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VLT circulando na Avenida Rio Branco. Foto: Fernando Frazão, Agência Brasil, cc

VLT – O crescimento vertiginoso da frota de ônibus e de automóveis, durante o século XX, levou à saturação dos principais eixos de transporte do Rio de Janeiro e asfixiou a cidade com viadutos e altos índices de poluição atmosférica. O Veículo Leve sobre Trilhos foi imaginado com o objetivo de estancar esse processo e restaurar as áreas degradadas do Centro.

Inspirado nos bondes e inaugurado em 2016, o VLT circula pelo Centro, conectando os diversos pontos de chegada à região, reduzindo a quantidade de carros e de veículos na região central e promovendo uma forma de locomoção mais sustentável.

Reflexões

A história do transporte público coloca a sociedade diante de reflexões sobre a mobilidade urbana, especialmente nas grandes cidades, que respondem por cerca de 70% da emissão dos gases de efeito estufa e onde os meios de transporte contribuem, de forma geral, com cerca de 50% dessas emissões. A questão é complexa e envolve muitos vieses, como custos, o direito de ir e vir, a sustentabilidade... Não à toa que em inúmeras cidades do mundo, tem crescido o uso das biclicletas. 

Se quiser saber mais sobre a história dos meios de transporte urbano ou sobre sua relação com a sustentabilidade, clique nos links abaixo:

Museu Histórico Nacional
Do bonde ao VLT
Transporte de pessoas e cargas no RJ
Rio de Janeiro: técnica e mobilidade
Coppe estuda potencial do uso da bicicleta como transporte no Rio
Mobilidade inteligente
Pacto da mobilidade urbana: a viabilização política de uma cidade sustentável

 

 
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