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Especializado em artigos para homens e meninos, o magazine A Torre Eiffel, na Rua do Ouvidor, mantinha casa de compras em Londres e Paris (Crédito: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)


Tal como no tempo dos vice-reis, ser elegante, vestir-se de acordo com os padrões europeus significava pertencer a um grupo seleto e restrito de pessoas de status social diferenciado da população de escravos e despossuídos – presunção de fidalguia.

Então, no Império, damas e cavalheiros chiques, vestidos elegantemente, frequentavam as confeitarias e os cafés, que ditavam hábitos e sabores na capital. Iguarias quentes ou geladas, como um tropical frappé sabor coco, degustado na Cailteau, na Lalé ou na Cavé, para aliviar as altas temperaturas! A Castelões, famosa por suas empadinhas e frequentada pelo escritor Machado de Assis (1839-1908), fugia à regra dos nomes franceses. Esse espaço, em 1894, se transformou na conhecida Confeitaria Colombo, patrimônio cultural e artístico do Rio de Janeiro, integrada à história da cidade.

O cotidiano procurava imprimir o toque europeu. Senhores de fraque e cartola, acompanhando senhoras usando vestidos longos, armados e rodados, por ali circulavam, expondo a moda europeia. Também pequenos grupos compostos por políticos, boêmios, literatos e jornalistas, com motivações e interesses diversos, reuniam-se nessas confeitarias e nesses cafés. Alguns, diante das mesinhas forradas com alvas toalhas de linho, saboreavam o chá das cinco, hábito tipicamente inglês, não importando se os termômetros indicassem 40 graus. Outros, ao final das apresentações teatrais, buscavam os sorvetes ou uma coupe de champagne na Confeitaria do Senhor Déroche. Jovens escritores reuniam-se na Confeitaria Paschoal, frequentada pelo poeta Gonçalves Dias (1823-1864). Havia o grupo que preferia a Cailteau, famosa por servir o chope alemão de tonel.

Na época das festas carnavalescas, a animação tomava conta das ruas da cidade, como a do Ouvidor, que se enfeitava. Por ela, em desfile, ecoavam os sons ritmados dos que tocavam bumbos, chamados de zé-pereiras. E também carros alegóricos, mais refinados, em alegria despreocupada. Muitos risos e mascarados no meio da multidão. As palavras são do escritor Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882): ”Podem severos críticos achar de mau gosto o meu repetido recurso aos velhos manuscritos, mas hei de teimar nele: escrevo as Memórias da Rua do Ouvidorque em seu caráter de rua das modas, da elegância e do luxo merece e deve ser adornada e adereçada condignamente”.