ACESSIBILIDADE
Acessibilidade: Aumentar Fonte
Acessibilidade: Tamanho Padrão de Fonte
Acessibilidade: Diminuir Fonte
Youtube
Instagram
Ícone do Tik Tok
Facebook
Kwai
Whatsapp

Nos primórdios, o lundu
24 Fevereiro 2015 | Por Sandra Machado
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp

lunduMuito popular já em meados do século XVIII e descrito nas Cartas Chilenas do poeta inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, de 1787, o lundu é o resultado de uma confluência intercultural única. Dos escravos angolanos herdou o batuque, o acompanhamento marcado por palmas, o canto coletivo de um refrão, a sensual umbigada e o requebrado dos quadris, o que explica a repressão oficial das apresentações de dança em locais públicos. Dos espanhóis, tomou emprestados os braços erguidos e o estalar dos dedos. Dos portugueses, o acompanhamento da viola, do bandolim e até do cravo, típico de um estilo chamado moda e que, no Brasil, foi rebatizado de modinha.

Inspirada na ópera italiana, a modinha tanto recebeu como doou elementos ao lundu, em especial graças à atuação de um poeta e músico, o que favoreceu sua disseminação. Domingos Caldas Barbosa, filho de um português com uma escrava angolana, foi o responsável por levar esses ritmos a Lisboa. Além de desfrutar de uma excelente receptividade no além-mar, o lundu vinha revelar à metrópole que, na colônia, era diferenciado o trato com a população africana.

Segundo Tereza Virginia de Almeida, em artigo publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional, as evidências do fenômeno já aparecem no teor do discurso. De maneira geral, o lundu retratava uma inversão nas perspectivas esperadas do regime escravocrata, ao expressar, licenciosamente, o jogo de sedução possível entre homens negros e senhoras brancas, apelidadas por eles de “sinhás” ou “iaiás”. Por meio da música, surgia uma fórmula que permitia lidar, de forma jocosa, com a detalhe1dura realidade da escravidão, ao mesmo tempo pondo à prova a posição de suposta subalternidade feminina.

Um dos registros mais significativos pode ser encontrado na edição de Viagem ao Brasil, relato da expedição realizada por Johann von Spix e Carl von Martius pelo interior do país entre 1817 e 1820. No livro, os naturalistas alemães publicaram um anexo chamado “Canções populares brasileiras e melodias indígenas”, que reproduz, em texto e partitura, oito cantigas, 14 músicas indígenas e um exemplar de lundu, de autoria desconhecida. Nos versos, há um lamento: “Entendo que vossa mercê me entende, entendo que vossa mercê me engana, entendo que vossa mercê já tem outro amor a quem mais ama”.

Em pouco tempo, o gênero do lundu-canção caiu nas graças de compositores e músicos de teatro, que lançavam mão do estilo para criar letras cheias de humor e de malícia. Ainda no início do século XX, era executado até mesmo em espetáculos circenses. Não por acaso, o primeiro disco gravado no Brasil pela Casa Edison, em 1902, foi o lundu composto por Xisto de Paula Bahia: Isto É Bom, também conhecido como Iaiá, Você Quer Morrer?. A faixa foi interpretada por Manuel Pedro dos Santos, mais conhecido como Bahiano, o mesmo que iria emprestar sua voz para a gravação do samba Pelo Telefone, na década seguinte.

 
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp
MAIS DA SÉRIE