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Eliseu Visconti criou identidade para construções históricas do Rio de Janeiro
15 Outubro 2020 | Por Larissa Altoé
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Pano de boca do Theatro Municipal, 1908 (Projeto Eliseu Visconti. Domínio público)

 

O Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Palácio Pedro Ernesto e o Palácio Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, formam importante conjunto arquitetônico da cidade e têm em comum a participação do pintor Eliseu Visconti na produção de sua identidade visual.

São enormes painéis decorativos e também criações de pequeno porte como o ex-libris da BN, que é o carimbo presente até hoje nas publicações da instituição indicando que pertencem à biblioteca.

Além das artes plásticas, estrito senso, Visconti desenvolveu trabalhos característicos de design, conferindo beleza a construções e objetos cotidianos.

Theatro Municipal

O engenheiro Francisco de Oliveira Passos, responsável pelo projeto do Theatro Municipal, convidou Eliseu Visconti para decorar o teatro que começava a ser construído em 1905. Pode-se ver a arte de Visconti no pano de boca (cortina que sobe e desce no início e no final do espetáculo para revelar e esconder o palco), nos painéis decorativos do teto e paredes laterais do foyer (salão onde se pode ficar antes do espetáculo e também nos intervalos), no friso sobre o palco e no teto da galeria. O projeto Eliseu Visconti produziu um vídeo para que todos possam conhecer virtualmente as obras do artista para o Theatro Municipal. Esse projeto foi criado em 2005 por Tobias Stourdzé Visconti, neto do artista, com o objetivo de preservar e divulgar a obra do pintor.

Até hoje a Biblioteca Nacional usa esse identificador (ex-libris) para sinalizar que a publicação pertence a seu acervo (Projeto Eliseu Visconti/Fundação BN. Domínio Público)

O pano de boca foi motivo de polêmica entre a elite brasileira na época em que foi pintado porque retratava, entre cerca de 300 figuras, uma família de negros e o imperador D. Pedro II. O tema encomendado à Visconti tinha sido “a influência das artes sobre a civilização”. Para o neto do pintor, Tobias Stourdzé Visconti, "as críticas questionavam o conteúdo das obras e revelavam os ideais da Nova República, que não desejava expor seu passado escravista – na figura dos negros – ou o passado monárquico recente – na figura de D. Pedro II".

Atualmente, o pano de boca é utilizado apenas em grandes estreias para que não se danifique.

Biblioteca Nacional

O curador  Irma Arestizabal escreveu no catálogo da exposição Eliseu Visconti e a Arte Decorativa (1983) que "Visconti estabeleceu um vínculo direto com projetos de identidade visual ao criar o emblema e o ex-libris da Biblioteca Nacional" em 1903. O ex-libris permanece em uso até hoje e o emblema original pode ser visto nos vidros das janelas na sede da Biblioteca. São também obras de Visconti dois painéis que decoram a galeria da BN: Solidariedade Humana e O Progresso.

Palácio Pedro Ernesto

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro, situada no Palácio Pedro Ernesto, na Cinelândia, no Centro da cidade, possui três painéis de Visconti, formando um conjunto no saguão de entrada. A obra foi finalizada em 1923 por ocasião da inauguração da construção, erguida para ser o Conselho Municipal, como era chamada a Câmara de Vereadores da época.

Painel central do tríptico (conjunto de três painéis) da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no Palácio Pedro Ernesto. (Projeto Eliseu Visonti. Domínio Público)

Palácio Tiradentes

Em 1924, Visconti recebeu como encomenda criar o painel decorativo do plenário da Câmara dos Deputados, no Congresso Nacional (atualmente, Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, na Praça XV de Novembro). Visconti apresentou um primeiro esboço representando a posse de Deodoro da Fonseca na Presidência da República, que foi rejeitado por apresentar mulheres em sua composição. O pintor fez, então, um segundo esboço, que foi aprovado, mostrando a assinatura da primeira Constituição da República em 1891, solenidade que se deu sem a presença de mulheres. Este painel é uma exceção entre os trabalhos decorativos de Visconti, que quase sempre trazem a mulher como protagonista.

Brasileiro por opção

Eliseu Visconti, 1893 (Projeto Eliseu Visconti. Domínio Público)

Eliseu D`Angelo Visconti nasceu na Itália em 1866, mas veio para o Brasil com cerca de dez anos sob a proteção da baronesa de Guararema. Ele estudou no Liceu de Artes e Ofícios e na Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro. Venceu um concurso da Escola Nacional de Belas Artes em 1892, que lhe deu uma bolsa de estudos em Paris. Casou-se com a francesa Louise Palombe, com quem teve três fFilhos. Faleceu no Rio de Janeiro em 1944, aos 78 anos.

Galeria de imagens

Eliseu Visconti é autor de vasta obra em inúmeras áreas. Para conhecer mais alguns de seus trabalhos, criamos uma galeria logo após essa reportagem.

Produtos da MultiRio com Eliseu Visconti

A série televisiva da MulriRio Arte, Artistas e Arteiros mostra detalhes do teto do Theatro Municipal, e os textos complementares trazem outras informações sobre a vida e a obra de Visconti.

Fontes:

Projeto Eliseu Visconti

CAVALCANTI, Ana Maria Tavares. Entre a alegoria e o deleite visual: as pinturas decorativas de Eliseu Visconti para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Revista do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais, EBA/UFRJ, 2002.

SERAPHIN, Mirian N. Os percalços e a polêmica do pano de boca do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Colóquio para o Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA).

 
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