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Tecnologias sustentáveis e o futuro das cidades
05 Janeiro 2022 | Por Márcia Pimentel
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Grandes cidades respondem por 70% da emissão de gases de esfeito estufa, no planeta. Foto: Nara, Wikicommons

Cerca de 4,5 bilhões de pessoas vivem, hoje, em aglomerados urbanos. Esse contingente representa 56% da população mundial e, segundo informações do Museu do Amanhã, a maior parte está concentrada em 29 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes e em 44 metrópoles com 5 a 10 milhões de moradores.

Essas grandes cidades consomem mais de 60% da energia produzida no planeta. Ainda respondem por 70% das emissões de gases de efeito estufa e 70% do bilhão e meio de toneladas de lixo lançadas anualmente no meio ambiente.

Fora isso, a concentração de asfalto e de concreto, os elevados índices de poluição atmosférica e o desmatamento transformaram as grandes cidades em ilhas de calor que contribuem de forma relevante para o aquecimento global.

A expectativa da ONU é que a população urbana chegue a 6,5 bilhões de habitantes em 2050 (70% do total mundial). Como não é mais possível imaginar a sustentabilidade do planeta sem pensar em cidades sustentáveis, centenas de engenheiros, arquitetos e pesquisadores das mais diversas áreas se desdobram para gerar tecnologias mais limpas, capazes de mudar o modelo de desenvolvimento.

Energia descentralizada

A urgência na adoção de matrizes energéticas limpas, que não promovam impactos ambientais, aliada à necessidade de baixar os custos com o consumo de eletricidade, tem levado um número cada vez maior de pessoas a usar painéis solares em suas residências.

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Descentralização energética: painéis solares em residências da cidade de Freiburg, Alemanha. Foto: Nara, Wikicommons

Segundo a ABGI, consultoria especializada em gestão da inovação, isso é uma tendência do setor elétrico: do consumidor ter, cada vez mais, a sua própria infraestrutura energética. Isso não significa que, no futuro, todos os imóveis terão painéis solares instalados no telhado. Novas tecnologias de geração de energia estão sendo pesquisadas.

Na Universidade de Stanford, por exemplo, cientistas desenvolvem um mecanismo, chamado de painel antissolar, que capta energia à noite, transformando em eletricidade a diferença de temperatura entre o céu noturno e a Terra. No Massachusetts Institute of Tecnology, descobriram que, com o auxílio da nanotecnologia, a umidade do ar pode gerar corrente elétrica, quando associada a uma bactéria chamada Geobacter.

Independente do mecanismo de geração de energia a ser adotado, é também provável que a eletricidade seja distribuída como uma espécie de wi-fi. Uma empresa da Nova Zelândia já está desenvolvendo essa tecnologia capaz de distribuir energia elétrica sem fio.

Florestas verticais

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O conceito de floresta vertical do Boeri Studio. Imagem: Stefano Boeri

Cobrir lajes, telhados e coberturas de prédios com plantas não era mais novidade no início da década de 2010. Mas, pensando na necessidade de se construir um modelo arquitetônico sustentável, o arquiteto Stefano Boeri radicalizou a ideia. Começou a projetar edifícios com grandes canteiros em cada andar, que permitem revestir todas as faces externas do prédio com árvores, arbustos, trepadeiras e plantas rasteiras.

Para ter uma ideia, as duas primeiras torres construídas com esse conceito, erguidas em 2014, em Milão, na Itália, abrigam juntas cerca de 20.000 m² de mata, o que inclui quase 800 árvores grandes, médias e pequenas, além de mais de 16 mil outros tipos de plantas. A ideia é mudar a feição das cidades, transformando-as em florestas verticais, pois, segundo os especialistas, sem replantio de áreas verdes, o aquecimento das grandes áreas urbanas não vai ser contido.

Pensando nessa mesma questão, pesquisadores da Espanha e Inglaterra desenvolveram materiais de construção biorreceptivos, capazes de estimular o crescimento de musgos, microalgas e liquens. A ideia é utilizar a tecnologia em paredes externas, transformando-as em jardins, em filtros de gás carbônico, em controladoras térmicas das construções urbanas e em nova opção de decoração de muros e fachadas.

Albedo e superbranco

A relação entre a quantidade de luz do sol recebida pela superfície terrestre e a de luz refletida (não absorvida) afeta diretamente a temperatura do planeta. Essa relação é traduzida matematicamente por um coeficiente chamado de albedo.

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A tinta branca no exterior das construções, muito usada nas cidades gregas, absorve menos o calor emitido pelo sol. Foto: Pedro Szekely, Wikicommons

Atualmente, o albedo do planeta é de cerca de 0,4. Isso significa que a Terra devolve apenas 40% da energia solar para o espaço e absorve 60%. Como as superfícies alvas são as que mais refletem a luz, pesquisadores tentam desenvolver tintas superbrancas para contribuiemr com a redução da temperatura das cidades e do planeta.

A estratégia de utilizar revestimentos brancos para minimizar as temperaturas já está sendo praticada em diversos locais do mundo. As lojas da rede Walmart, nos Estados Unidos, por exemplo, já usam telhados brancos.

A tinta mais branca produzida até hoje foi desenvolvida recentemente na China, utilizando nanopartículas de sulfato de bário. Talvez, no futuro, as edificações das cidades sejam todas brancas ou florestas verticais.

Automóveis

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), o setor de transportes responde por 25% da emissão de gases de efeito estufa. Esse índice pode aumentar assustadoramente em algumas cidades do planeta, a exemplo de São Paulo, onde os automóveis são responsáveis por 72,6% da poluição atmosférica.

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Interior de carro autônomo projetado pela Volvo. Foto: divulgação

A indústria automobilística investe, cada vez mais, em motores movidos a eletricidade e em carros autônomos, que não precisam de motorista para dirigir. Analistas de mercado afirmam que o provável é que os modelos sejam combinados com motores à combustão - um híbrido flex -, que funcionem com biocombustíveis ou com combustíveis sintéticos menos poluentes que a gasolina e o diesel.

Outra tendência, segundo os mesmos analistas, é a do setor se tornar cada vez mais um serviço e cada vez menos uma forma de transporte individual. A indústria automobilística já começou a analisar a possibilidade de desenvolver carros voltados para esse novo modelo de negócio. Como os bancos da frente poderão ser descartados, já que não haverá motorista, a cabine dos automóveis tenderá a se transformar em salão de estar.

Pavimentação mais ecológica

Segundo o instituto alemão Umwelt-und Prognose Heidelberg, cada carro lança, em apenas dois dias, a mesma quantidade de gases de efeito estufa que o metrô emite em um mês inteiro. De olho nesse problema, cientistas japoneses desenvolveram um tipo de pavimento, já em uso no Japão, capaz de absorver parte dos gases poluentes emitidos pelos automóveis, transformando-os em nitratos inofensivos.

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Pavimentação a partir da reciclagem do asfalto, em cidade do Paraná. Foto: Prefeitura de Ponta Grossa, cc

Pesquisadores de outros países também tentam achar alternativas de pavimentos mais sustentáveis que o asfalto. Uma das tecnologias desenvolvidas já começou a ser utilizada, inclusive no Brasil. Trata-se de um polímero que aglomera as partículas do solo, criando uma base rígida resistente à água e ao peso, e que é aplicado como se estivesse pintando o chão.

Outra tecnologia em desenvolvimento é a pavimentação produzida a partir de plástico reciclado, super-resistente às variações de temperatura, e que está sendo testada nas ruas de Roterdã, na Holanda. Pesquisadores do Reino Unido também desenvolveram um asfalto mais permeável que o utilizado em larga escala atualmente, ideal para as áreas com problemas crônicos de inundações.

Com tantas novas tecnologias em desenvolvimento, a questão é saber se a população, os gestores públicos e os educadores do Brasil e do mundo estão atentos às inovações mais sustentáveis. A escola, aliás, tem papel fundamental na construção da consciência ecológica, já que todos – população em geral, gestores e profissionais – passam por ela.

 
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