Aprender na prática a fazer um programa jornalístico, com veiculação nas redes sociais para centenas de pessoas. Este foi o desafio que os alunos da turma 1601 do 6º ano do Ginásio Experimental Carioca da Escola Municipal Rodrigo de Mello Franco Andrade (2ª CRE), no Andaraí, sugeriram à professora regente Patrícia Gomes da Silva. Ela resolveu desenvolver a proposta, e assim surgiu o Fala Rodrigo, um telejornal com a participação de 39 estudantes, com assuntos importantes aos alunos e tudo o que acontece na unidade escolar.

O projeto é representante da 2ª CRE na Andar - Agência de Notícias dos Alunos da Rede. Patrícia Gomes conta que a primeira ideia dos alunos para o Fala Rodrigo foi criar uma conta na rede social Instagram, principal plataforma por onde os vídeos são publicados:

"Eles me propuseram ter uma conta para a gente mostrar a rotina da turma. Levei um pouco pro lado pedagógico e pensei num telejornal, onde trabalhamos pautas e a parte da escrita", diz a professora, que acrescenta que recentemente foi criado um canal no Youtube do projeto.

Atualmente, a produção do Fala Rodrigo é semanal, e as pautas surgem a partir de temas propostos pelos alunos e trabalhados em sala de aula. Por meio de votação, a turma escolhe os mais interessantes que entram no telejornal:

"O último tema foi bolha social, um aluno veio com essa demanda. A gente pesquisou e achou por bem fazer um programa sobre o assunto", ressalta a professora.

Os alunos mostram a chegada de material na unidade escolar, como carteiras, ou a inauguração do parquinho no pátio; realizam entrevistas, que podem acontecer na própria escola com professores, que contam suas trajetórias profissionais, ou no ambiente familiar dos alunos, com familiares que narram histórias do bairro onde moram; abordam assuntos sobre eleições para representantes de classe ou para cargos políticos nacionais; explicam datas importantes, como o Dia do Trabalho ou o Dia Internacional da Mulher; dentre outros assuntos.

Participação e superação da timidez

A construção de cada vídeo ensina a todos a importância do trabalho coletivo. Na hora de botar a mão na massa, as atividades se revezam e cada um tem a oportunidade de cumprir uma função: repórter, editor, roteirista, âncora, câmera ou iluminador.

Alguns acabam se envolvendo mais. As alunas Maria Fernanda e Maria Clara, ambas de 12 anos, costumam dividir a edição dos vídeos, mas também participam como apresentadoras. Nos depoimentos colhidos durante visita da Andar, as alunas declararam que a experiência é uma grande aliada para vencer o obstáculo da timidez:

"A gente tenta mudar o repórter, o âncora, mas às vezes as pessoas têm vergonha, e às vezes é sempre a mesma pessoa", diz Maria Fernanda. “Estou perdendo minha timidez cada vez mais”, lembra Maria Clara.

Os alunos Isaque da Costa, de 12 anos, e Rafael Bunn, de 11 anos, são um pouco mais desinibidos. Rafael conta que as produções podem evoluir e que gostaria muito de saber mais sobre roteiro e iluminação. Ele destaca momentos em que o programa abordou temas sobre discriminação:

"Quando falamos de racismo foi marcante. Muitas crianças sofrem, e temos que ter noção de que não é legal. O bullying também, as pessoas têm que se colocar no lugar das outras", explica Rafael.

Por sua vez, Isaque não se intimida em encarar a câmera. De forma assertiva, ele compreende os objetivos do projeto Fala, Rodrigo: "Expandir o conhecimento, nosso e das outras pessoas", diz o aluno.

Aprendizagem e cidadania

Patrícia Gomes considera que a participação dos estudantes, a desenvoltura textual e posicionamento dos alunos diante do mundo são resultados a se comemorar.

"Essa turma cresceu muito com as discussões, as conversas, o que produzimos. Há o crescimento na escrita de texto. Eles estão sempre prontos ao novo. São pessoas que vão conseguir se colocar a frente de qualquer um, sem medo, sem tabus. Temos um orgulho imenso", diz a professora, que considera como fator principal do sucesso do projeto a participação de seus alunos na escolha dos temas e produção do conteúdo.

A diretora da escola, Luciene Ruffo de Almeida Lins, também reforça o resultado fundamental na formação cidadã dos alunos:

"Acho que o papel da escola é formar o cidadão que possa se posicionar na sociedade, cidadãos críticos, que conseguem expor e defender suas ideias com convicção, sabendo argumentar", explica a diretora.

Luciene Ruffo também enaltece o trabalho da professora Patrícia Gomes dentro da proposta do desenvolvimento da cultura digital na escola, de forma indissociável da prática social e da democratização de experiências e informações. Ela não esconde o sentimento que teve quando os alunos a procuraram para fazer a primeira entrevista do Fala, Rodrigo:

"Eles me perguntaram como é ser diretora de uma unidade escolar, em especial da Rodrigo de Mello, e eu respondi muito emocionada. Foi então que eu comecei a perceber que estávamos conseguindo desenvolver o tão sonhado protagonismo juvenil dentro de nossa escola, algo que tanto se fala e às vezes parece distante", explica a diretora.