O término do ano letivo traz um desafio para os responsáveis por crianças e adolescentes: como evitar o uso excessivo de telas, redes sociais e jogos digitais?
Em comunicado da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em 25 de setembro de 2024, Hans Kluge, diretor da agência para a Europa, alertou: "Precisamos de ações imediatas para ajudar os adolescentes a interromper o uso potencialmente prejudicial das mídias sociais, que comprovadamente levam à depressão, bullying, ansiedade e baixo desempenho escolar."
Reforçando essa preocupação, a editora da Universidade de Oxford escolheu o termo "brain rot" (traduzido como "cérebro podre") como a palavra do ano de 2024. A editora explicou que o termo descreve a deterioração mental ou intelectual causada pelo consumo excessivo de conteúdos triviais, especialmente em redes sociais.
Estabelecendo limites e incentivando o diálogo
De acordo com Kátia Rios, gerente do Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (NIAP), proteger crianças e adolescentes no mundo digital requer limites claros de tempo para o uso de dispositivos e incentivo a atividades offline.
"Estabelecer limites e estimular outras atividades são medidas preventivas. Além disso, é fundamental manter a comunicação aberta sobre as experiências online," afirma Kátia. Ela também alerta que, apesar de as redes sociais possibilitarem interações democráticas e positivas, há riscos de interações perversas e violentas que precisam ser discutidos com os jovens.
Crianças e celulares: o que dizem as regras?
Nas escolas públicas municipais do Rio de Janeiro, o uso de celulares está proibido desde fevereiro de 2024, salvo para atividades pedagógicas supervisionadas ou necessidades especiais. Seguindo essa direção, o Senado aprovou recentemente um projeto que restringe o uso de celulares em escolas públicas e privadas da Educação Básica em todo o Brasil. A medida depende apenas da sanção presidencial para entrar em vigor em 2025.
Mas e no tempo livre, como lidar com os aparelhos digitais com internet? Para responsáveis que não conseguem tirar férias junto com os filhos, esse pode ser um desafio ainda maior.
Atividades desplugadas: criando alternativas
Para equilibrar o tempo entre o digital e o presencial, é possível incentivar atividades como jogos de tabuleiro, cartas, culinária supervisionada ou participação em tarefas domésticas. Além disso, a criação de uma rede de apoio com familiares ou amigos pode ajudar a organizar passeios e atividades coletivas.
Outra opção são as colônias de férias. No Rio de Janeiro, a Prefeitura oferece o projeto gratuito Escola de Férias, com oficinas de inovação, artes, música e muito mais. As atividades acontecem em 21 escolas, e as inscrições estão abertas para alunos da Rede Pública Municipal através desse link.
Há também opções abertas ao público geral, como as colônias oferecidas pelo SESC – acesse aqui - e pelo SESI – acesse aqui.
Conteúdo educativo nas telas e democratização do conhecimento
Dentro deste debate, é essencial destacar o potencial positivo das telas como ferramentas educativas. Recursos como vídeos interativos, jogos pedagógicos e aplicativos podem transformar o aprendizado, promovendo curiosidade, pensamento crítico e habilidades essenciais para o século XXI. Esses instrumentos não apenas complementam o ensino presencial, mas também ampliam o alcance do conhecimento, especialmente para estudantes em áreas com acesso limitado a materiais tradicionais.
No contexto escolar, a introdução de tecnologias digitais em práticas pedagógicas bem planejadas permite uma abordagem mais dinâmica e personalizada, respeitando diferentes estilos e ritmos de aprendizagem. Ao mesmo tempo, é fundamental preparar os jovens para uma convivência responsável no ambiente digital. Isso inclui o papel das escolas em oferecer educação midiática, ensinando alunos a usarem as tecnologias de forma ética e produtiva.
Kátia Rios destaca que, para garantir o uso seguro e consciente das telas, é necessário que responsáveis, educadores e governos atuem em conjunto. Enquanto famílias estabelecem limites e promovem o diálogo sobre experiências online, políticas públicas devem assegurar tanto a proteção digital quanto o acesso universal à internet. Dessa forma, as telas se tornam aliadas valiosas na formação integral, contribuindo para democratizar o conhecimento e promover oportunidades educacionais mais equitativas.