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Adiado o prazo para adoção do novo acordo ortográfico
11 Dezembro 2012 | Por Márcia Pimentel
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LINGUALOGOCURSOACORDOTerminaria em 31 de dezembro o prazo de adequação dos brasileiros ao novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Mas a pressão de vários setores da sociedade, insatisfeitos com as regras, acabou adiando o período de adaptação às novas normas para o último dia do ano de 2015. O adiamento reacende o debate sobre as regras ortográficas, muito embora jornais, revistas, livros didáticos e documentos oficiais já tenham adotado o novo acordo.

Um dos líderes da ala insatisfeita é o professor de Língua Portuguesa Ernani Pimentel. Para ele, o acordo não segue uma lógica clara: "Como se ensina que ‘mandachuva’ se escreve sem hífen e ‘guarda-chuva’ com hífen, se as duas palavras são formadas por verbo e substantivo? Como se ensina que ‘super-homem’ se escreve com hífen, por causa da letra ‘h’, mas que ‘desumano’ não tem ‘h’, nem hífen?", questiona ele.

Evanildo Bechara1Já para o professor Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, é muito cedo para fazer questionamentos. "Para o grande público, a implantação de um acordo depende da memória visual das palavras", diz o gramático. Ele não compartilha das críticas sobre o emprego do hífen, já que a dificuldade de seu uso não é exclusiva do português. “Todas as línguas que usam o hífen – como o espanhol, o inglês e o francês – encontram a mesma dificuldade”, diz o professor. A questão, explica ele, é que a função do hífen, de forma geral, é mostrar as formas compostas. E a passagem de duas palavras para formar um composto depende muito de como cada um entende a palavra.

Bechara também não concorda com aqueles que dizem que o novo acordo ortográfico complica as regras. Para ele, ocorre justo o contrário. “O fim do trema é um exemplo claro do espírito de simplificação”, afirma ele. É que havia muitas dúvidas sobre seu uso, como no caso da palavra “bilíngue”, cujo “u” é pronunciado pelos brasileiros, mas não pelos portugueses. Mesmo no Brasil, os habitantes de algumas regiões pronunciam o “u” de certas palavras, como “questão”, enquanto outros omitem o som desta letra.

Qual seria, então, a forma correta de escrever tais palavras pelas regras da ortografia antiga? Foi a impossibilidade de adotar uma única representação escrita para as diversas maneiras de pronunciá-las que levou os acadêmicos a abolir o uso do trema, deixando que a tradição oral de cada região defina se o “u” é ou não pronunciado. “Muitos se queixam a respeito da queda do trema, mas a solução adotada foi inteligentíssima”, opina o professor.

Queda de braço histórica

evolucaoortograficaFoi em 1885 que Gonçalves Viana e Vasconcelos Abreu, estudiosos da Língua Portuguesa, apresentaram publicamente, pela primeira vez na história, razões científicas para uma simplificação ortográfica. Até então, predominava o sistema etimológico, muito próximo ao grego e ao latim, com inúmeras palavras escritas com grafemas, como era o caso de “pharmácia” e “sciência”. Além disso, cada autor adotava uma ortografia própria, já que não existia uma norma oficial. Machado de Assis, por exemplo, usava o sistema adotado pelo escritor português Almeida Garret.

Foi pela necessidade de uniformizar a escrita, unindo a pronúncia com a história das palavras, que Portugal, em 1911, promoveu sua primeira reforma ortográfica. O Brasil, contudo, não foi consultado, o que gerou muitas reclamações por parte de nossos acadêmicos. Em 1915, a Academia Brasileira de Letras chegou a adotar a escrita usada em Portugal, mas revogou sua decisão quatro anos depois. Brasileiros e portugueses começaram, então, a se sentar à mesa a fim de resolver, conjuntamente, as questões relacionadas à normatização da língua.

O entendimento nunca foi fácil. “Brasil e Portugal puxavam, cada um, a brasa para sua sardinha. Assinaram um acordo ortográfico em 1943, mas os portugueses acharam que ele estava pendendo muito para o lado brasileiro. Então fizeram outra reforma em 1945. Só que nosso país não se submeteu a ela”, explica o professor Bechara.

COMUNIDADE LUSÓFONA3Mudanças oficiais na ortografia de cada país ocorreram posteriormente, mas mantendo as reformas de 1943 (Brasil) e 1945 (Portugal) como base. Só em 1990 é que se chegou a um novo acordo. Mas para que ele entre em vigor é preciso que cada país lusófono ratifique-o. Até o momento, apenas Angola e Moçambique não fizeram isso. “Não por dissidência ao acordo, mas porque eles têm problemas internos, políticos e sociais, muito mais graves para resolver”, lembra Bechara.

O Itamaraty e o Ministério da Educação dizem que o objetivo do adiamento é apenas alinhar o Brasil aos prazos de Portugal – que tem até o final 2015 para adotar plenamente as mudanças ortográficas. Lá, os livros, os jornais e as revistas também já adotam as normas do acordo de 1990, mas há, ainda, muitos setores renitentes, tal como no Brasil. Na opinião do professor Bechara, não é justa a reclamação de alguns portugueses em relação à reforma ortográfica: “Alegam que é mais próxima do português do Brasil. Mas isso não é verdade: os brasileiros tiveram que ceder muito mais de seus hábitos ortográficos que os portugueses. Eles só têm que abrir mão do emprego das consoantes não articuladas (como em “efectivo”), enquanto nós tivemos que abrir mão de oito práticas”.

Muito embora o Itamaraty e o Ministério da Educação digam que o acordo não está em discussão, alguns senadores, como Cyro Mirando (PSDB-GO) e Ana Amélia (PP-RS) têm insistido na necessidade de aperfeiçoá-lo. Mas mesmo com todas as críticas, Evanildo Bechara considera que a reforma já vingou em nosso país: “Além de termos razões científicas para querer essa reforma ortográfica, ela simplifica as regras e a simplificação é sempre bem-vinda”.

 
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