Conteúdo colaborativo tem tudo para parecer um fenômeno do momento presente, mas não é. Segundo o historiador holandês Herman Roodenburg, no século XVII já circulavam pela Europa os chamados “manuais de civilidade”, que incluíam tiradas de humor e da arte da conversação cultivada para os salões, que não eram assinadas por ninguém e pertenciam automaticamente ao domínio público. Bem mais tarde, a partir da Primeira Revolução Industrial e da produção de bens culturais em série, é que os direitos autorais se tornaram objeto de defesa da propriedade intelectual.
Na atualidade, com o advento da internet, a falta de clareza na atribuição da autoria pode estar voltando à moda. De qualquer forma, para alguns especialistas, as duas grandes questões recorrentes da era digital são, justamente, o respeito à privacidade e o direito autoral. No Brasil, a expectativa pela aprovação do Marco Civil da Internet no Congresso Nacional surge como uma esperança de regulação para o setor.
O sujeito contemporâneo se encontra em meio a uma encruzilhada. Novas tecnologias de comunicação permitem que ele tenha acesso à produção cultural em escala ilimitada e, inclusive, altere esses conteúdos com seu toque criativo pessoal e os recoloque em circulação. Por outro lado, tudo o que é digitalizado está à mercê de distorção ou cópia sem atribuição de crédito, o que compromete os direitos autorais. Ressignificar obras alheias, sejam elas imagens ou textos, se tornou uma realidade a partir da chamada web 2.0, da qual uma das mais fortes características é a possibilidade da autoria coletiva. Até os anos 1990, a distribuição da produção cultural estava restrita às organizações empresariais, por causa do suporte, que era material, principalmente por meio de impressos.
Em Tempo Real
Thiago Montano é um arquiteto carioca, mas é também o videoartista, DJ e VJ Montano. Ele se inspira no que encontra pelas ruas da cidade e pelo ciberespaço para compor um material único, usado em performances audiovisuais que animam festas e shows pelo Rio. “Os vídeos virais são uma cultura de ressignificação, impensável antes da digitalização dos bens culturais”, lembra Sérgio Branco, professor da IBMEC e especialista em direitos autorais. De uma forma geral, a cultura do remix dá asas à experimentação, algumas vezes entendida como homenagem, outras, como crítica aberta.
Hoje, já existem músicos que fazem suas composições via internet, numa troca de arquivos entre coautores nas diferentes fases do processo de criação. “Isso tira a aura do autor como gênio”, completa Magda Pischetola, professora de Mídias Digitais e Educação da PUC-Rio. São ilimitados os exemplos da apropriação de um original passível de ser reinterpretado. Nesse sentido, música sampleada, grafite e fanfiction já fazem parte do cotidiano. Até mesmo o financiamento para a realização de trabalhos artísticos já é passível de contribuição coletiva, como bem ilustra o fenômeno do crowdfunding. Ou a reinvenção de si mesmo, e não apenas por meio de avatares digitais.
No seu terceiro episódio, Em Tempo Real apresenta o trabalho de Montano e de outros artistas, além da opinião de especialistas que se aprofundam, em simultaneidade com os fenômenos atuais, nas mudanças cada vez mais aceleradas.
Dicionário
Avatares: figuras criadas para personalizar o internauta no mundo virtual; corpos virtuais.
Crowdfunding: financiamento coletivo que acontece quando uma ideia é apresentada numa plataforma on-line e os interessados em apoiar o projeto fazem doações.
Fanfiction: criação, por parte dos fãs, de cenas, diálogos e desfechos de livros, filmes e séries de TV.
Música sampleada: aquela em que se usa um trecho da música de outro autor.
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