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A relação entre competências socioemocionais e desempenho escolar
06 Setembro 2018 | Por Fernanda Fernandes
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Daniel Santos apresentou resultados de estudo realizado no Brasil sobre competências socioemocionais (Foto: Alberto Jacob Filho)

A importância das competências socioemocionais na vida e sua relação com o desempenho escolar foi o tema abordado por Daniel Santos, professor doutor de Economia da Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto) e pesquisador do eduLab21 – projeto do Instituto Ayrton Senna que visa desenvolver e reunir pesquisas sobre políticas educacionais –, em palestra na I Semana de Educação Socioemocional, realizada na Escola de Formação Paulo Freire. O evento também foi transmitido ao vivo para telessalas instaladas nas Coordenadorias Regionais de Educação e no Núcleo Central da Secretaria Municipal de Educação, e gravado pela MultiRio. 

Daniel Santos traçou um histórico, apresentou gráficos com resultados de pesquisas realizadas no Brasil e descreveu a maneira como programas de educação socioemocional foram, são ou podem ser desenvolvidos nas escolas.

Contexto histórico

Segundo o economista, em 2011, com a cultura de avaliação consolidada, identificou-se uma dificuldade em obter ganhos de desempenho apenas com mais recursos e intervenções na gestão da escola. Assim, consolidou-se uma evidência global sobre a importância das habilidades não cognitivas.

Em 2012, ainda de acordo com o pesquisador, passou-se a buscar um instrumento que permitisse um diagnóstico da situação nacional. O instrumento ideal deveria ter alto poder preditivo, ou seja, ser associado ao sucesso na vida; dimensões maleáveis – características em transformação na idade escolar; adequação aos recursos financeiros e de tempo disponíveis nas escolas; além de respeitar as melhores normas acadêmicas.

Assim, em 2013 foi lançado o Senna 1.0, uma parceria com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Já no ano seguinte, percebeu-se a necessidade de ampliar o escopo do sistema de mensuração em resposta às demandas das redes educacionais, tendo início a construção do Senna 2.0. A ferramenta passou a considerar a autoeficácia e a identidade, ou seja, quanto o indivíduo acha que é e quanto se acha capaz de fazer.

Competências que promovem o aprendizado

O especialista da USP conta que, nas últimas décadas, manifestou-se entre os psicólogos um consenso de que a maneira mais eficaz de analisar a personalidade humana consiste em observá-la em cinco dimensões, conhecidas como os Cinco Grandes Fatores (Big Five):

1. Abertura ao novo: curiosidade para aprender, imaginação criativa, apreciação estética;

2. Autogestão: responsabilidade, foco, persistência, organização;

3. Engajamento com o outro: sociabilidade, assertividade, entusiasmo;

4. Amabilidade: empatia, respeito, confiança no próximo, gratidão;

5. Resiliência/estabilidade emocional: ansiedade, tolerância à frustração, tolerância ao estresse.

A partir disso, adotou-se, então, uma postura para saber como a escola afeta essas características. Daniel Santos afirmou que, segundo pesquisas feitas no Brasil, os dois primeiros fatores – abertura ao novo e autogestão – vêm demonstrando ter mais influência no desempenho escolar.

“A autogestão apresenta uma queda representativa no meio da adolescência, entre o Fundamental 2 e o Ensino Médio. Sobre a amabilidade, que envolve a empatia – aspecto dos mais urgentes no contexto brasileiro –, a mudança maior se dá no início da adolescência. Depois disso, a melhoria é lenta. Outro ponto é sobre a resiliência ou estabilidade emocional: apesar de meninos e meninas manterem um padrão, elas passam por uma redução dessas características na adolescência”, observou o palestrante. 

Apesentação exibida por Daniel Santos durante o evento (Fonte: Instituto Ayrton Senna)

 

Os resultados dos estudos também apontaram para uma relação entre o desempenho em Matemática e a autogestão, e um maior impacto em Língua Portuguesa associado à abertura ao novo.

Ressaltou-se, ainda, o destaque de algumas facetas na promoção do aprendizado: foco e determinação, curiosidade para aprender (uma das que mais declinam com a idade, segundo o palestrante), assertividade, gratidão e autoconfiança.

Sobre relações entre características socioemocionais e a violência escolar, observou-se que nos casos em que professores ou diretores relataram, em formulário da Prova Brasil, casos de delinquência, agressão, furto, transgressão, vandalismo e/ou problemas graves, os estudantes reportaram menos sociabilidade.

“As características socioemocionais são influenciadas pela família e pela comunidade, por programas realizados pela escola e pelo contexto em que ela está inserida. Estar em um entorno violento provoca uma queda, sobretudo, nos aspectos amabilidade e engajamento”, apontou Daniel Santos.

“Outros resultados comprovados são que alunos que já foram reprovados apresentam ganhos maiores; e que meninos se beneficiaram mais desses programas, possivelmente por, em geral, apresentarem mais dificuldades.”

Como trabalhar a educação socioemocional

Segundo o economista, é possível implementar um programa de educação socioemocional de maneira modular ou transversal. “A maioria dos educadores aposta na transversal, que é o que acontece em algumas escolas do estado do Rio de Janeiro. Mas o governo do Ceará, por exemplo, acha que é preciso ter um espaço dedicado a essa abordagem, que garanta que o tema será trabalhado com os alunos”, explica. 

O pesquisador se apresentou para professores presentes na Escola de Formação Paulo Freire e nas telessalas espalhadas pela cidade (Foto: Alberto Jacob Filho)

Daniel Santos conta que, no estado nordestino, foi feita uma intervenção do programa, com quatro horas a mais de aulas nas escolas interessadas, com alunos de Ensino Médio. Essas aulas eram baseadas em problematização de experiências – com músicas, poemas etc. –, de forma que os alunos pensassem e compartilhassem suas vivências, e o professor atuasse como mediador.

No 1º ano, eram abordados temas sobre escola e família (identidade pessoal, saúde e valorização da vida, família); no 2º, comunidade (identidade social, cidadania, saúde e sexualidade); e no 3º, mercado de trabalho (educação financeira, ética, dimensões do trabalho).

Sobre a abordagem transversal, o palestrante aponta que coordenador pedagógico e professor podem dissecar o plano de aula do semestre para identificar oportunidades para trabalhar as competências. “Em uma aula de História sobre o Apartheid, pode-se falar sobre tolerância”, exemplificou.

Ele explicou que diferentes programas de aprendizagem socioemocional vêm sendo desenvolvidos, com atuações que dão mais importância ao reconhecimento das emoções (como controlar ou pensar em consequências do seu comportamento, autocontrole), ao resgate (como trazer de volta para a escola quem já se desencantou e mostrar que esse indivíduo ainda faz parte dela) e à promoção (projeto de vida). E reforçou a importância de se trabalhar de maneira preventiva.

“Políticas preventivas têm maior eficácia. Vemos programas de sucesso, especialmente em idades menores, para prevenir agressividade. A amabilidade é mais facilmente trabalhada com crianças mais novas; depois, fica mais difícil ser assimilada.”

Mais informações e outras publicações na área podem ser acessadas no site http://educacaosec21.org.br/.

 
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