Uma vida tomada pela música: na escola, com os alunos; em casa, com os filhos; na igreja que frequenta; e nos palcos em que se apresenta com o grupo musical Expresso Pindorama, do qual faz parte. Assim é a rotina de Eliete Vasconcelos Gonçalves, professora da Rede Municipal há dez anos. Hoje, ela dá aulas de teclado para alunos do 7º ao 9º ano na E.M. Chile, em Olaria (4ª Coordenadoria Regional de Educação).
Formada em Música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), ela ensina, observa comportamentos, a evolução dos estudantes e é estimulada pela mudança que a arte promove na vida deles. “A maneira como a música transforma o indivíduo e toca o aluno é o que me motiva a trabalhar com Educação.”
O caminho da música
Desde os 5 anos de idade, Eliete estuda música, tendo começado pelo piano. Quando jovem, fez, inclusive, curso técnico nessa área, antes de concluir a formação de professores.
Diferente de muitos casos em que a arte é deixada como segunda opção, Eliete começou uma faculdade de Matemática, por hobby, enquanto se preparava para a prova de ingresso no curso de Música. “Entrar na licenciatura em Música era muito difícil. Então, enquanto me dedicava a isso, decidi fazer Matemática para relaxar, como passatempo.” Quando foi aprovada na Unirio, que era em tempo integral, teve que abandonar a Matemática, já no 6º período. “Aí sim, eu fui estudar de verdade”, conta Eliete, sorrindo, afirmando que pensa em concluir a outra graduação algum dia, por diversão.
Ainda antes de se formar, prestou concurso para a Secretaria Municipal de Educação. Aprovada, foi convocada para dar aulas de Música na Rede. Passou pelas escolas municipais Cecília Meireles, em Vila Kosmos, Tarsila do Amaral, em Irajá, e Malba Tahan, em Vigário Geral, todas da 5ª CRE. Hoje, leciona na E.M. Chile (4ª CRE), em Olaria.
E não parou de estudar. Já concluiu uma pós-graduação em Arteterapia e, atualmente, faz Mestrado em Educação, Cultura e Pensamento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), voltado para a área de Educação Musical.
O ensino da Música na Rede
Ao entrar na Rede Municipal, Eliete confessa ter ficado um pouco “desesperada”. “Eu estava acostumada a dar aulas particulares para um ou pouquíssimos alunos, e de um instrumento específico. De repente, me vi em uma sala com cerca de 40 alunos, tendo que lecionar Música, mas sem instrumento – apenas com quadro e caneta”, relembra.
“Ao longo dos anos, fui descobrindo como despertar o interesse deles pela disciplina, sobretudo em aulas mais práticas e menos teóricas. Trabalhava experimentação musical com o corpo, análise de canções que eles ouviam no rádio, ou seja, tentando traduzir o seu universo musical."
Alguns anos depois, Eliete fez outra prova para tornar-se professora de teclado na E.M. Chile. Lá, ao lado de outros quatro professores, ensina turmas do 7º ao 9º ano a tocar instrumentos. “São grupos reduzidos de, no máximo, 15 alunos. Já não preciso mais fazer toda aquela ‘ginástica’ para conquistar a atenção deles. Aqui, é o inverso. Eles me procuram, me perseguem até na hora do almoço para tirar dúvidas, fazer sugestões ou mostrar o que aprenderam.”
Segundo a professora, apesar de muitos adolescentes terem bom rendimento, alguns ainda apresentam dificuldades, por diferentes razões. “Problemas familiares e a falta de estímulo e motivação são questões que se refletem diretamente na capacidade de aprendizagem. Também há casos em que o aluno é esforçado, mas falta habilidade motora, uma lacuna que não foi preenchida no seu desenvolvimento. Por exemplo, não brincou de empilhar blocos de montar ou não recortou papéis na infância.”
A música como elemento transformador
De acordo com Eliete, é possível ver a evolução de cada um em outras disciplinas e uma mudança, principalmente comportamental. “Quando o aluno se desenvolve, se descobre solista, ganha visibilidade na escola e isso o estimula a estudar e crescer. A autoestima aumenta, ele acredita que é capaz. Alguns querem fazer faculdade, muitos buscam aulas particulares para se aprimorar. Também temos o exemplo de uma aluna que tinha dificuldade de relacionamento e se encontrou no canto coral. Ela virou monitora e, de uma menina que quase não falava, tornou-se a líder de um grupo.”
Na opinião da professora, a preocupação com disciplinas objetivas e resultados palpáveis é tão grande que o subjetivo acaba esquecido, mesmo sendo tão importante na formação do indivíduo. “Muitos alunos se transformam no contato com a música. Chegam tristes, com dificuldade, mas, então, se encontram em um instrumento e muda, ali, o sentido da vida deles. A música mexe com algo que vem de dentro da pessoa e que muitas vezes é deixado de lado."
Os alunos da E.M. Chile apresentam-se constantemente na escola ou em eventos externos. Eles fizeram, inclusive, a abertura do congresso do Fórum Latinoamericano de Educação Musical, realizado no Brasil em 2015, na Escola de Música da UFRJ.
“Quando o aluno sobe no palco, ele vê que tem importância e se transforma. Quando canta, toca, se apresenta e é aplaudido, percebe que tem valor.”
Música na escola e fora dela também
Mãe de três filhos, Eliete divide a rotina profissional com as demandas da família, como estudar e passear com as crianças. E a música não está fora disso. Os filhos – de 6, 9 e 11 anos – já seguem os passos da mãe e tocam instrumentos como violão e piano.
Evangélica, Eliete também toca teclado, canta e faz a preparação vocal da banda da igreja que frequenta. E as apresentações musicais não param por aí. Ao lado dos outros quatro professores de Música da E.M. Chile, ela integra o grupo Expresso Pindorama, que faz um trabalho autoral e educativo para o público infantil. “É uma proposta educativa que une música e ludicidade. Não é só para diversão, levamos informação. São arranjos complexos, diferentes instrumentos, passando por uma variedade de gêneros musicais.”
A hora de “relaxar e não pensar em nada” é quando pratica atividades físicas. “Sou corredora e esse é o meu momento de esvaziar a mente, me sentir livre”, conta a professora, que também é adepta de trilhas e rapéis. “Escolhi fazer rapel porque tenho pânico de altura e quis encarar algo que me desafiasse. Ainda não perdi esse medo, mas estou no caminho.”
