ACESSIBILIDADE
Acessibilidade: Aumentar Fonte
Acessibilidade: Tamanho Padrão de Fonte
Acessibilidade: Diminuir Fonte
Youtube
Instagram
Ícone do Tik Tok
Facebook
Kwai
Whatsapp

Mestre Valentim: um ás das artes do Rio colonial
19 Novembro 2014 | Por Márcia Pimentel
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp

mestrevalentim-anjo2O mais representativo artista do período colonial do Rio de Janeiro merece figurar no panteão dos maiores talentos brasileiros daquele tempo e ter seu nome sempre lembrado pelos cariocas. Ele é patrono de uma escola municipal localizada no bairro de Anchieta (6ª CRE), a E.M. Mestre Valentim, que faz uma justíssima homenagem a esse gênio da escultura, prataria, ourivesaria, bronzagem, arquitetura, urbanismo, paisagismo e desenho. Afinal, ele, que assina a ornamentação de várias igrejas da cidade, foi o responsável pelo projeto e pela execução do primeiro espaço público de lazer do Brasil: o Passeio; e o primeiro a fazer esculturas em ligas metálicas em nosso país.

Apesar de quase todo o trabalho de Valentim da Fonseca e Silva ter sido realizado no Rio, ele nasceu em Minas Gerais, provavelmente no ano de 1745, numa região mineradora a cerca de 300 km de Belo Horizonte, na localidade onde fica, hoje, o município de Serro. Tal como Aleijadinho, são poucas as informações sobre a vida do mestre, mas, segundo um artigo de Manuel de Araújo Porto Alegre, publicado em 1856 na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, ele era filho de uma escrava e um português. O pai, um contratador de diamantes (aquele que tinha licença para explorar as pedras), o levou para Lisboa, em 1748, onde ficou até 1770, data em que retornou ao Brasil e se estabeleceu na então capital da colônia. Durante o tempo que passou em Portugal, estudou artes, arquitetura, urbanismo e escultura com os mestres lisboetas.

MESTREVALENTIM-CHAFARIZ-DEBFRET-FOTOO primeiro registro que se tem de seu trabalho no Rio de Janeiro foi como auxiliar do entalhador Luís da Fonseca Rosa, na construção da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, localizada nas proximidades da atual Praça XV. Atribui-se a ele a talha dourada sobre fundo claro do retábulo-mor, decorado com motivos rococós, como guirlandas, buquês, laços e querubins. Mas é na Capela do Noviciado que muitos críticos de arte afirmam que ele mostrou todo o seu estilo, misturando os elementos típicos da arte rococó portuguesa a traços neoclássicos, sem, contudo, abandonar a talha dourada tão característica do período colonial brasileiro.

Vários templos católicos da cidade construídos ou reformados na época apresentam alguma marca de Valentim, a exemplo dos lampadários de prata e dos entalhes em madeira do Mosteiro de São Bento, e da Fonte das Saracuras, erguida no antigo Convento da Ajuda, que se localizava onde, hoje, fica a Cinelândia. Embora tenha sido demolido em 1911 para dar espaço à praça, o chafariz foi doado à Prefeitura, que o reinstalou na Praça General Osório.

Outras esculturas de aves pernaltas do mestre podem ser vistas no Memorial Mestre Valentim, instalado na antiga estufa das violetas do Jardim Botânico. Feitas em bronze fundido, elas compunham, originalmente, o Chafariz dos Jacarés, que era um dos principais destaques do Passeio Público. Na mesma estufa, encontram-se as estátuas da ninfa Eco e do caçador Narciso, confeccionadas em 1785 em pedra esculpida e em liga de estanho e chumbo.

 

O urbanista e paisagista

Na segunda metade do século XVIII, um forte surto de gripe atingiu o Rio de Janeiro, matando uma boa parte da população que vivia na região urbana da cidade. A principal fonte de contágio foi atribuída à fétida Lagoa do Boqueirão da Ajuda, onde os dejetos eram lançados. Foi nesse contexto de epidemia que o então vice-rei do Brasil, dom Luís de Vasconcelos, decidiu aterrar a lagoa (e o manguezal ao entorno) e contratar Mestre Valentim para construir um grande jardim público na área aterrada.

Na época, a ascensão dos valores científicos e iluministas na Europa fez aparecer uma nova concepção de jardim, que representaria a organização da natureza pela racionalidade humana e, ainda, seria desígnio de saúde, lugar que provia ar puro ao espaço urbano. Influenciado por essas ideias racionalistas – em que a ordem, a proporção e a simetria geométrica integravam a visão do belo –, Valentim projetou o primeiro espaço de lazer do Brasil, o Passeio Público, muito embora sua área em forma de hexágono irregular fugisse às regras da estética clássica.

MESTREVALENTIM-PORTÃOPASSEIOO jardim concebido pelo mestre tinha um muro alto, entrecortado por janelas com grades de ferro, e um portão de acesso sustentado por dois pilares de pedra. Em seu interior, duas ruas principais formavam uma cruz, com uma grande praça ao centro, e várias outras, em diagonal, criavam desenhos geométricos diversos. No final da avenida que se abria a partir da entrada, havia o Chafariz dos Jacarés, por trás do qual se erguia um mirante para apreciação da Baía de Guanabara. E, espalhados por todo o parque, bancos e mesinhas para sentar e conversar. Não foi à toa que o Passeio logo se transformou no grande ponto de encontro da sociedade carioca setecentista.

 
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp
MAIS DA SÉRIE
texto
Tarsila do Amaral, defensora da arte com o olhar brasileiro

Tarsila do Amaral, defensora da arte com o olhar brasileiro

17/01/2022

Patrona da E.M. Tarsila do Amaral (5ª CRE), conheça a trajetória de uma das maiores representantes da pintura no Brasil.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Artur Azevedo e seu papel na criação da ABL e do Theatro Municipal

Artur Azevedo e seu papel na criação da ABL e do Theatro Municipal

21/09/2021

O jornalista fez intensa campanha, que resultou na lei de criação do imponente teatro da Cinelândia.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Vital Brazil descobriu como neutralizar o veneno de cobras brasileiras e doou patente para o Estado

Vital Brazil descobriu como neutralizar o veneno de cobras brasileiras e doou patente para o Estado

11/05/2021

Cientista trabalhou para se formar em medicina e foi pioneiro na pesquisa em Imunologia. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Quem foi Francisco Cabrita, engenheiro e professor

Quem foi Francisco Cabrita, engenheiro e professor

23/02/2021

Importante figura no campo da Educação no início da República, ele dá nome a uma escola na Tijuca. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Marc Ferrez, fotógrafo pioneiro na documentação do Brasil

Marc Ferrez, fotógrafo pioneiro na documentação do Brasil

07/12/2020

A obra de Ferrez é considerada um dos principais registros visuais do século XIX e do início do século XX.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Affonso Penna: inovou ao nomear ministros com requisitos técnicos, mas não fugiu ao contexto ao privilegiar os cafeicultores

Affonso Penna: inovou ao nomear ministros com requisitos técnicos, mas não fugiu ao contexto ao privilegiar os cafeicultores

30/11/2020

Aulas on-line da professora de História da E.M. Affonso Penna falam sobre as práticas políticas da Primeira República.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Grande Otelo e o imaginário racial brasileiro no século XX

Grande Otelo e o imaginário racial brasileiro no século XX

19/10/2020

  Conheça a trajetória do ator negro que dá nome a duas unidades de ensino da Rede Municipal.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Maria Montessori: feminista, cientista e educadora

Maria Montessori: feminista, cientista e educadora

31/08/2020

Uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina e a exercer a profissão na Europa, ela confrontou governos totalitários e revolucionou a Educação no mundo.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Aracy de Almeida, cantora famosa e mulher emancipada

Aracy de Almeida, cantora famosa e mulher emancipada

19/08/2020

Nascida no subúrbio do Rio, Aracy cantou para as multidões e fez o que quis da vida em plena década de 1930.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Tia Maria do Jongo e a conservação da cultura ancestral

Tia Maria do Jongo e a conservação da cultura ancestral

24/07/2020

Ela ensinava crianças em casa para manter viva a tradição.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Nelson Mandela, símbolo de luta pela igualdade racial e pelos direitos humanos

Nelson Mandela, símbolo de luta pela igualdade racial e pelos direitos humanos

17/07/2020

Primeiro presidente da África do Sul eleito democraticamente, ele dá nome a Ciep no bairro de Campo Grande (9ª CRE).

Patronos das Escolas Municipais

texto
José de Alencar, fundador da literatura brasileira

José de Alencar, fundador da literatura brasileira

30/04/2020

O autor começou a escrever de forma mais próxima ao modo de falar dos brasileiros e não mais com o português usado em Portugal.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Carlos Chagas e a importância das pesquisas científicas no combate às epidemias

Carlos Chagas e a importância das pesquisas científicas no combate às epidemias

22/04/2020

  Durante a pandemia da gripe espanhola, população clamava para ele assumir a gestão da saúde pública. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Clementina de Jesus, samba e ancestralidade

Clementina de Jesus, samba e ancestralidade

07/02/2020

Lançada artisticamente após os 60 anos de idade, sua voz e seu repertório marcaram a cena musical brasileira, exaltando elementos da cultura negra.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Juliano Moreira e a luta contra o racismo nas teorias psiquiátricas

Juliano Moreira e a luta contra o racismo nas teorias psiquiátricas

02/01/2020

Considerado o pai da psiquiatria científica brasileira, Juliano Moreira venceu as dificuldades impostas por ser negro e de classe social baixa no século XIX.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Rachel de Queiroz e a escrita regionalista

Rachel de Queiroz e a escrita regionalista

14/11/2019

Homenageada pelo Espaço de Desenvolvimento Infantil Rachel de Queiroz (1ª CRE), na Praça Onze, a escritora conhecida por O Quinze foi professora de História, tradutora e a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Patronos das Escolas Municipais

texto
Graciliano Ramos: a subjetividade do sertão

Graciliano Ramos: a subjetividade do sertão

22/10/2019

O livro Vidas Secas, traduzido para 12 línguas, é um clássico da problemática dos retirantes nordestinos.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Santos Dumont, um inventor genial

Santos Dumont, um inventor genial

17/10/2019

A partir dele, a humanidade foi capaz de voar com um aparelho autônomo, mais pesado que o ar, e dirigível.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Agostinho Neto, “poeta maior” e primeiro presidente de Angola

Agostinho Neto, “poeta maior” e primeiro presidente de Angola

17/09/2019

Homenageado em 17 de setembro em Angola, Dia do Herói Nacional, Agostinho Neto engajou-se na luta pela libertação de seu país. Sua poesia é marcada pela resistência e afirmação da identidade africana.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Escola e creche municipais têm nome em homenagem à poetisa Cora Coralina

Escola e creche municipais têm nome em homenagem à poetisa Cora Coralina

20/08/2019

Saiba mais sobre a autora que encantou Carlos Drummond de Andrade.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Cecília Meireles: a poeta que era mestre na arte de ver o mundo

Cecília Meireles: a poeta que era mestre na arte de ver o mundo

22/06/2015

Educadora, intelectual e autora de preciosidades da literatura nacional, Cecília Meireles alçou a poesia a um novo patamar, por sua maneira toda especial de ver a vida.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Elis Regina, estrela da música popular brasileira

Elis Regina, estrela da música popular brasileira

07/04/2015

O Ciep Elis Regina, da comunidade Nova Holanda, na Maré (4ª CRE), deve seu nome a uma das melhores cantoras do Brasil.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Castro Maya, o mecenato e a consolidação do modernismo

Castro Maya, o mecenato e a consolidação do modernismo

13/01/2015

O empresário que fabricava um dos produtos mais populares do Rio, a gordura de coco Carioca, também foi um dos maiores incentivadores do movimento modernista brasileiro.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Anna Amélia: a poetisa apaixonada por futebol

Anna Amélia: a poetisa apaixonada por futebol

05/01/2015

Ela agitou os salões cariocas, foi musa dos estudantes, lutou pelos direitos das mulheres e se casou com o primeiro goleiro da seleção brasileira de futebol.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Donga, pioneiro do samba e da música popular brasileira

Donga, pioneiro do samba e da música popular brasileira

25/11/2014

Ele não foi apenas o protagonista da primeira gravação de um samba no Brasil, mas, também, personagem importante na história da difusão e orquestração da música do Rio de Janeiro.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Aleijadinho, um mestre do barroco brasileiro

Aleijadinho, um mestre do barroco brasileiro

11/11/2014

A obra do maior artista do período colonial brasileiro é tida como uma das mais importantes matrizes culturais do país.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Francisco Palheta e o cafezinho do Brasil

Francisco Palheta e o cafezinho do Brasil

28/10/2014

Fatos curiosos marcaram a introdução da cultura do café em nosso país, pelas mãos de um desbravador da Amazônia.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Oswald de Andrade e o redescobrimento do Brasil

Oswald de Andrade e o redescobrimento do Brasil

20/10/2014

Há 50 anos morria um dos escritores que mais impactaram a arte brasileira do século XX.

Patronos das Escolas Municipais

texto
O advogado da favela

O advogado da favela

07/10/2014

Bento Rubião, que dá nome a um Ciep na Rocinha (2ª CRE), tornou-se conhecido por defender moradores de comunidades removidas e teve suas teses incorporadas à Constituição de 1988 e ao Estatuto da Cidade.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Raul Pederneiras: um precursor da HQ no Brasil

Raul Pederneiras: um precursor da HQ no Brasil

30/09/2014

Suas técnicas de ilustração revolucionaram a imprensa carioca da Belle Époque.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Júlia Lopes de Almeida, a primeira escritora profissional do Brasil

Júlia Lopes de Almeida, a primeira escritora profissional do Brasil

26/08/2014

Patrona de uma escola municipal localizada no bairro de Santa Teresa, ela já foi considerada a maior romancista da geração que sucedeu Machado de Assis.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Portinari, o filho de lavradores que se tornou conhecido mundialmente

Portinari, o filho de lavradores que se tornou conhecido mundialmente

07/07/2014

Candido Portinari pintou intensamente. Cenas de infância, circo, cirandas e também a dor da gente brasileira. A Escola Municipal Candido Portinari, da 11ª CRE, em Pitangueiras, deve seu nome ao grande pintor.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Tiradentes: uma breve história do herói nacional

Tiradentes: uma breve história do herói nacional

16/04/2014

Mártir da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier é inspiração para estudos acadêmicos, tendo sua trajetória gerado obras literárias, filmes e peças teatrais, além de ser patrono de uma escola municipal localizada no Centro (1ª CRE), a E.M. Tiradentes. 

Patronos das Escolas Municipais

texto
Segue viva a alegria de Lamartine Babo

Segue viva a alegria de Lamartine Babo

01/04/2014

Marchinhas de carnaval, hinos dos clubes de futebol cariocas e clássicos das festas juninas são uma herança sempre presente do compositor entre nós.

Patronos das Escolas Municipais

texto
Centenário de nascimento de Vinicius de Moraes

Centenário de nascimento de Vinicius de Moraes

18/10/2013

Um dos grandes artistas brasileiros do século XX, Vinicius era apaixonado por cinema, música, poesia e, sobretudo, pela vida.

Patronos das Escolas Municipais

texto
João do Rio e a construção simbólica do Rio de Janeiro

João do Rio e a construção simbólica do Rio de Janeiro

23/05/2013

A cidade foi, sem dúvida alguma, o assunto preferido de João do Rio, já que ela exemplificava, como nenhuma outra, a transição do país para a fase de República.

Patronos das Escolas Municipais

texto
João do Rio: o cronista da belle époque carioca

João do Rio: o cronista da belle époque carioca

23/05/2013

Mestre da crônica como registro de época, o jornalista fez uma verdadeira etnografia do Rio de Janeiro nos anos 1910 e 1920: das altas esferas sociais aos grupos mais marginais.

Patronos das Escolas Municipais

egebey1453 multirio.txt