ACESSIBILIDADE
Acessibilidade: Aumentar Fonte
Acessibilidade: Tamanho Padrão de Fonte
Acessibilidade: Diminuir Fonte
Youtube
Instagram
Ícone do Tik Tok
Facebook
Kwai
Whatsapp

A saga do Palácio Monroe
21 Janeiro 2015 | Por Sandra Machado
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp


monroe400Muito antes de se pensar na criação do Corredor Cultural, que há 30 anos preserva o patrimônio urbanístico do centro histórico do Rio, houve um arquiteto que propôs o tombamento do conjunto arquitetônico remanescente da época de abertura da Avenida Rio Branco, que é o símbolo maior das reformas empreendidas pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906). Seu nome era Paulo Santos, e ele tinha, também, formação em História da Arte. Conselheiro do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), ele redigiu um documento, em 1972, no qual indicava a necessidade de tombamento de edifícios importantes na região da Cinelândia: Biblioteca Nacional, Theatro Municipal, Câmara dos Vereadores e, também, o Palácio Monroe. A iniciativa deu margem à resposta do arquiteto Lucio Costa, mundialmente conhecido pela autoria do Plano Piloto de Brasília, que sugeria a derrubada específica do prédio, sob o argumento de desafogar o tráfego no fim da Avenida Rio branco, onde estava situado.

Logo a polêmica tomou conta dos jornais. De um lado O Globo apoiava a campanha pró-demolição, assim como o regime militar. De outro, ficaram o Jornal do Brasil, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Clube de Engenharia e os cariocas que já tinham se afeiçoado à bela obra, a ponto de tentarem impedir a arbitrariedade por meio de uma ação popular. Um manifesto contra a demolição do palácio teve a assinatura de 162 arquitetos, engenheiros e críticos de arte. O juiz Evandro Gueiros Leite sugeriu que o Palácio Monroe fosse destinado à instalação do Tribunal Federal de Recursos, que portraitestava sem sede. Relatos de época dão conta, também, de uma questão mal resolvida entre o Presidente Ernesto Geisel e um familiar do Marechal Francisco Marcelino de Souza Aguiar, responsável pelo projeto. Coincidência ou não, foi durante o mandato de Geisel (1974-1979) que o Palácio Monroe foi varrido da paisagem da cidade, entre janeiro e junho de 1976.

O engenheiro militar, autor de inúmeros projetos além do Palácio Monroe (Biblioteca Nacional, Quartel Central do Corpo de Bombeiros, e diversas escolas municipais, como a Deodoro, Alberto Barth, Barão de Macahubas, Affonso Penna e Menezes Vieira) ocupou a prefeitura do Rio como sucessor de Pereira Passos (1906-1909). Durante sua gestão, começou a saga do Palácio Monroe.

Origem nos Estados Unidos

Na verdade, o prédio foi construído, pela primeira vez, bem distante do Centro. A ocasião celebrava a compra do estado da Louisiana, que pertencia à França, pelos Estados Unidos, e o pavilhão deveria representar o Brasil na Exposição Internacional de Saint Louis, ou Exposição Universal de 1904. Elogiado pela imprensa estrangeira pela beleza de suas formas e aproveitamento inteligente do espaço interno, acabou condecorado com a medalha de ouro do Grande Prêmio Mundial de Arquitetura. Era a primeira vez que a arquitetura brasileira recebia reconhecimento internacional. Foi concebido de forma a poder ser desmontado, ao fim do evento, e remontado no Rio de Janeiro, em lugar de destaque, na então Avenida Central – nome original da Avenida Rio Branco, inaugurada em 1905.

A estreia do Palácio Monroe na história carioca começou em grande estilo: foi aberto no dia 23 de julho de 1906, para sediar a 3ª Conferência Pan-Americana, e deve a este evento o fato de ter sido rebatizado. Originalmente ia se chamar Palácio São Luiz, mas, por sugestão de Joaquim Nabuco, acatada pelo então ministro das Relações Exteriores Barão do Rio Branco, ganhou seu nome definitivo em homenagem ao presidente norte-americano James Monroe.

construcaoHistória viva do Brasil

Poucas edificações abrigaram entre suas paredes instituições de tamanha relevância. Embora tenha sido usado, inicialmente, apenas como centro de convenções, salão de festas oficiais e espaço de velórios de personalidades da época, logo estaria servindo para outros propósitos. Em 1911, o Palácio Monroe serviu de sede para o Ministério da Viação, atual Ministério dos Transportes. Três anos depois, a Câmara dos Deputados era transferida do prédio da Cadeia Velha para lá, onde funcionou até junho de 1922, quando ficou pronto o Palácio Tiradentes. A partir dali, passou a abrigar a Comissão Executiva da Exposição do Centenário da Independência do Brasil. Entre 1925 e 1932, se tornou a casa do Senado Federal. Funcionou como sede provisória do Tribunal Superior Eleitoral, entre 1945 e 1946. Em 1960, com a transferência da capital federal para Brasília, foi transformado em quartel-general do Estado-Maior das Forças Armadas.

Obra arquitetônica sem comparação

Crônica da Demolição é um documentário com roteiro e direção de Eduardo Ades, a ser lançado em 2015, que se propõe a encontrar não apenas os motivos que levaram à demolição do edifício histórico, mas, também, a localizar o destino das peças derivadas do desmonte do Palácio Monroe. Diversas partes da construção, além de elementos do revestimento interno, do mobiliário e vitrais, acabaram sendo vendidas como sucata, num lapso recorde de 120 dias, de forma que ficaram espalhados em diferentes localidades, do Brasil e exterior.

Uma vez que, desde o início, já se sabia que o palácio seria remontado no Rio de Janeiro, o projeto se desenvolveu a partir de uma estrutura de ferro, que depois foi recoberta pelas paredes. Depois da demolição, os quatro leões de mármore italiano que ficavam postados vistana entrada do prédio foram vendidos. Dois deles estão no Instituto Brennand, em Recife, e
outros dois na Fazenda São Geraldo, em Uberaba, Minas Gerais. Dos oito anjos que adornavam a cúpula do palácio, a produção do filme só conseguiu localizar dois. Por ser de madeira nobre, o piso em peroba do campo, que revestia 1.700 metros quadrados de área construída, foi vendido para um comerciante e exportado para o Japão.

Metrô, estacionamento e uma leve curva

Há quem atribua, erroneamente, às obras do metrô a demolição do prédio histórico. Muito pelo contrário: houve a preocupação de manter intacto o conjunto urbanístico na Cinelândia, inclusive o Theatro Municipal e a Câmara dos Vereadores. Em 1974, durante as obras para a construção do metrô carioca, o traçado do túnel chegou a ser refeito para garantir a preservação do Monroe, cujo tombamento tinha sido feito pelo governo estadual.

Enquanto os trabalhos eram realizados, as fundações do palácio eram checadas duas vezes ao dia. A escadaria de entrada tinha sido cuidadosamente desmontada por uma equipe de técnicos italianos especialmente contratados para a tarefa e guardada no interior do prédio, assim como os leões. O grau de sofisticação da empreitada ganhou as páginas de diversas revistas especializadas. Mas nem leões nem escada voltariam aos seus lugares originais.

interiorNo local onde existia o Palácio Monroe, a Praça Mahatma Gandhi passou a exibir uma estátua de bronze do pacifista indiano. Um chafariz, batizado de Monroe, com mais de 10 metros de altura, passou a fazer parte do cenário. Comprado pelo imperador Pedro II em Viena, em 1878, foi instalado primeiro no Largo do Paço, atual Praça XV, depois na Praça da Bandeira e, por fim, sobre a área da demolição. Em 2003, um estacionamento subterrâneo também foi inaugurado no espaço.

Publicada em um dos manifestos contrários à derrubada do prédio histórico, ficou, ainda, uma frase para a posteridade: “... restará aos usuários do metrô perceberem que, onde foi o Monroe, haverá uma misteriosa curva...” O desvio desnecessário do trajeto vai ficar para sempre como uma relíquia pública, embora invisível, da tentativa de salvação do palácio.

 
Compartilhar pelo Facebook Compartilhar pelo Twitter Compartilhar pelo Whatsapp
MAIS DA SÉRIE
texto
 Palácio Duque de Caxias, o mais histórico endereço do Exército Brasileiro

Palácio Duque de Caxias, o mais histórico endereço do Exército Brasileiro

13/07/2018

Prédio é atual sede do Comando Militar do Leste.

Palácios da Cidade

texto
Palácio da Justiça guarda relação antiga com o teatro

Palácio da Justiça guarda relação antiga com o teatro

21/06/2018

Inaugurado em 1926 para abrigar os tribunais da mais elevada instância do Judiciário, prédio ficava em meio à região boêmia da cidade.

Palácios da Cidade

texto
Palácio dos Arcos é ponto importante da memória brasileira

Palácio dos Arcos é ponto importante da memória brasileira

03/04/2018

Moradia do último dos vice-reis e sede do Senado durante um século, prédio abriga Faculdade Nacional de Direito desde a década de 1940.

Palácios da Cidade

texto
Palácio Gustavo Capanema é marco divisório na história da arquitetura do país

Palácio Gustavo Capanema é marco divisório na história da arquitetura do país

07/03/2018

Obras de restauração, iniciadas em 2015, ainda devem demorar.  

Palácios da Cidade

texto
Palácio da Cidade tem a alma do Rio

Palácio da Cidade tem a alma do Rio

01/03/2018

A incrível história de como a antiga embaixada do Reino Unido se tornou a sede do poder municipal carioca.

Palácios da Cidade

texto
Palácio de São Clemente é lusitano e carioca

Palácio de São Clemente é lusitano e carioca

08/11/2017

Tudo o que se relaciona ao prédio do Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro está carregado de muito afeto e grande esmero.

Palácios da Cidade

texto
Palácio de Brocoió é joia esquecida na Baía de Guanabara

Palácio de Brocoió é joia esquecida na Baía de Guanabara

21/08/2017

Localizado na ilha de mesmo nome, patrimônio é praticamente desconhecido pelos cariocas.

Palácios da Cidade

texto
Palácio da Conceição guarda acervo histórico

Palácio da Conceição guarda acervo histórico

12/06/2017

Museu e Centro de Operações Cartográficas do Exército funcionam nas antigas instalações do primeiro palácio episcopal do Rio de Janeiro.

Palácios da Cidade

texto
Palácio do Catete é sede do Museu da República

Palácio do Catete é sede do Museu da República

09/02/2017

Sede do Poder Executivo federal entre 1897 e 1960, construção foi local de suicídio do presidente Getúlio Vargas, na década de 1950.

Palácios da Cidade

texto
Muitas memórias no Palácio Tiradentes

Muitas memórias no Palácio Tiradentes

10/01/2017

Primeiro prédio a ser construído para sediar uma casa legislativa no país, abrigou a Câmara dos Deputados antes de servir ao estado do Rio.

Palácios da Cidade

texto
Trajetória shakespeariana marca Palácio das Laranjeiras

Trajetória shakespeariana marca Palácio das Laranjeiras

21/12/2016

Com a maior coleção de esculturas da Belle Époque fora da França, é o mais exuberante palco da história recente do país.

Palácios da Cidade

texto
Paço de São Cristóvão abriga o Museu Nacional

Paço de São Cristóvão abriga o Museu Nacional

01/12/2016

Construção sofreu diversas alterações arquitetônicas ao longo dos anos e também mudou de nome várias vezes.

Palácios da Cidade

texto
Palácio da Ilha Fiscal, preciosidade arquitetônica e histórica

Palácio da Ilha Fiscal, preciosidade arquitetônica e histórica

09/11/2016

Aberta à visitação, construção tem acabamento interno primoroso e ficou famosa por ter sido palco do último baile da monarquia brasileira.

Palácios da Cidade

texto
Palácio São Joaquim conjuga arte e história

Palácio São Joaquim conjuga arte e história

24/10/2016

Também conhecido como Palácio da Mitra Arquiepiscopal, o prédio não está aberto à visitação pública.

Palácios da Cidade

texto
Paço Imperial, o mais antigo dos palácios cariocas

Paço Imperial, o mais antigo dos palácios cariocas

11/10/2016

Ali aconteceu o Dia do Fico, a assinatura da Lei Áurea e a comunicação a D. Pedro II de que a República havia sido instaurada.

Palácios da Cidade

texto
 Palácio da Fazenda: prédio público monumental

Palácio da Fazenda: prédio público monumental

29/08/2016

Localizado em ponto de fácil acesso, no centro do Rio, tesouro arquitetônico da Era Vargas possibilita visitas pré-agendadas.

Palácios da Cidade

texto
Muita arte no Palácio Pedro Ernesto

Muita arte no Palácio Pedro Ernesto

04/07/2016

A sede da Câmara Municipal do Rio de Janeiro reúne um acervo ímpar, com obras de expressivos artistas brasileiros do início do século XX.

Palácios da Cidade

texto
O rico acervo do Palácio Itamaraty

O rico acervo do Palácio Itamaraty

10/11/2015

O complexo arquitetônico abriga o Museu Histórico e Diplomático, o Arquivo Histórico, a Mapoteca e a Biblioteca do Itamaraty.

Palácios da Cidade

texto
Palácio Guanabara de Portas Abertas. Visite!

Palácio Guanabara de Portas Abertas. Visite!

14/09/2015

Desde janeiro de 2015, a sede do governo do estado, em Laranjeiras, oferece visitas guiadas ao público.

Palácios da Cidade

texto
Palácio da Justiça abre suas portas para estudantes

Palácio da Justiça abre suas portas para estudantes

08/09/2015

Programa Conhecendo o Judiciário promove visitas e divulga informações sobre os direitos e as garantias fundamentais de todo cidadão.

Palácios da Cidade

egebey1453 multirio.txt