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Palácio de São Clemente é lusitano e carioca
08 Novembro 2017 | Por Sandra Machado
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O Palácio de São Clemente foi o primeiro edifício a ser construído pelo governo português para sede de uma embaixada (Foto: Reprodução de Alberto Jacob Filho)

Primeira edificação especialmente encomendada pelo governo português para abrigar a sede de uma embaixada, o Palácio de São Clemente está situado na rua de mesmo nome, no bairro de Botafogo, na Zona Sul do Rio. Projetado pelos arquitetos e irmãos lusitanos Guilherme e Carlos Rebello de Andrade, teve sua construção entre 1956 e 1961. Boa parte do material foi importada daquele país, especialmente para os acabamentos e a decoração, de forma a reproduzir um legítimo palácio barroco do século XVIII. Residência oficial do cônsul-geral na cidade, o prédio é, também, resultado da contribuição da colônia portuguesa local, que se cotizou para colaborar com o financiamento da obra, reforçando, assim, o significado das relações entre os dois países. 

Longo processo de maturação

A história do Palácio de São Clemente começou no início do século passado. A visita do presidente da república portuguesa, António José de Almeida, para as celebrações do centenário da independência do Brasil, em 1922, foi o catalisador da mobilização da comunidade lusitana no Rio, que desejava recepcioná-lo com uma embaixada à sua altura. No entanto, o esforço conjunto com as autoridades federais de além-mar levou à aquisição de uma propriedade que de maneira nenhuma atendia aos anseios gerais, uma vez que seu estilo arquitetônico era marcadamente francês. 

No hall de entrada, de cada um dos lados da porta se destaca um trabalho de azulejaria: como anfitriões, aparecem as figuras de um homem e de uma mulher (Foto: Reprodução de Alberto Jacob Filho)

Foi apenas depois de uma tempestade, causadora de grandes avarias na casa, que o embaixador Pedro Theotónio Pereira (1945-1947) tomou para si a tarefa de investir num projeto mais apropriado. Bastante influente, com frequência o diplomata conseguia doações de peças de museus e de palácios portugueses para as representações do exterior nas quais atuava. 

Portugal é aqui

Todo o projeto foi inspirado no período de apogeu da azulejaria na Península Ibérica, que, por sua vez, é uma expressão cultural herdada da cultura muçulmana e muito presente em Portugal até hoje, tanto em revestimentos interiores quanto em fachadas de palácios e de templos. Mais distintiva expressão artística da arquitetura portuguesa, os painéis de azulejaria do Palácio de São Clemente foram pintados à mão na Fábrica Viúva Lamego, fundada em 1849 e que atualmente está instalada na Abrunheira, em Sintra.

Coube ao pintor, ilustrador e ceramista modernista Jorge Barradas a elaboração das principais peças, como os painéis do hall de entrada e a fonte que decora o pátio central. Todo o mobiliário foi importado da Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, de Lisboa, de onde vieram também 22 colunas com 3,5 metros de altura, balaústres de varandas e cem metros de corrimão, todos feitos em lioz, que é uma pedra típica daquela região. Lanternas e grades em ferro forjado e até mesmo as telhas para toda a construção chegaram de navio ao Rio de Janeiro. 

Sala de Jantar Pequena (Foto: Reprodução de Alberto Jacob Filho)

A inauguração do palácio, que tem área total de 5.800 metros quadrados, aconteceu em 10 de junho de 1961, depois que a capital federal já havia sido transferida do Rio de Janeiro para Brasília. Mesmo assim, a representação diplomática portuguesa só se instalou definitivamente no Planalto Central em 1972. Atualmente, as dependências do palácio são franqueadas ao público no último sábado de cada mês, quando acontece um concerto do projeto Música no Museu, com entrada franca para 200 pessoas, a partir das 18h. É recomendado chegar com uma hora e meia de antecedência para a retirada de senhas.

Características únicas

A articulação entre os espaços internos e externos é uma marca da concepção arquitetônica do Palácio de São Clemente, repleto de varandas. No Salão de Banquetes, cujas portas envidraçadas se abrem para o pátio interno, oito janelas no estilo olho de boi, instaladas no teto, deixam que a luz natural ilumine uma mesa para 44 pessoas. O espaço conta, ainda, com dois lustres de cristal português, tendo 30 lâmpadas cada.

Na parede ao fundo, uma tapeçaria da cidade alentejana de Portalegre se destaca. Desde o século XVII, a localidade é referência pela qualidade da produção nesta arte: com 250 mil pontos por metro quadrado, garante uma densidade que permite reproduzir com perfeição qualquer imagem – neste caso, uma cena campestre. Outra peça de tapeçaria que chama a atenção é uma longa passadeira de 16 metros, colocada na galeria, originária de Beiriz, aldeia que ficou famosa por sua excepcional fábrica de tapetes. 

Novo prédio recebe o público para atendimento de serviços consulares (Foto: Verônica Natividade)

Ao lado da Sala de Estar fica a capela, onde existe um oratório entalhado e recoberto de ouro, circundado por telas que reproduzem passagens da Paixão de Cristo. Embora não seja ampla, está localizada entre a Sala de Jantar Pequena e duas salas de visita – uma exclusiva do embaixador e outra da embaixatriz –, o que permite receber um público maior em caso de necessidade, graças a portas articuladas, que expandem o acesso. Sobre o altar-mor repousa uma relíquia do Padre Anchieta. 

Ampliação com ares de modernidade

Um novo prédio, localizado à esquerda da entrada do Palácio de São Clemente, foi recém-inaugurado para funcionar como local de atendimento de serviços consulares. O arquiteto Pedro Campos Costa convidou alunos da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) para participarem de um workshop, realizado entre 18 de agosto e 3 de setembro de 2016, no qual foi desenvolvida uma peça de cobogó para ser usada na fachada da expansão. A equipe do curso de Arquitetura e Urbanismo que venceu o desafio criou o modelo chamado de trança, inspirado na tradicional arte da tecelagem portuguesa.

Fontes:

CÔRTE-REAL, EMBAIXADOR MANUEL. Palácio de São Clemente. Rio de Janeiro: Andrea Jakobson Estúdio Editorial, 2005.

Site Archdaily, jornal O Globo, WikiRio

 
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