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Paço Imperial, o mais antigo dos palácios cariocas
11 Outubro 2016 | Por Sandra Machado
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À direita, no pátio, calçamento em pedra de lioz (Fonte: museusdorio.com.br)

Praça Quinze de Novembro, 48. Poucos endereços na cidade do Rio de Janeiro se comparam em importância quando o assunto é História do Brasil. Com estilo barroco, o Paço Imperial foi construído entre 1738 e 1743, depois que Antônio Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, governador e capitão-general do Rio de Janeiro, fez uma reivindicação ao rei D. João V, em Portugal. Insatisfeito com a casa onde morava na Rua Direita, atual Primeiro de Março, Gomes Freire solicitou um alojamento mais condizente com a importância do cargo, sendo atendido. Até sua morte, 20 anos depois, o prédio foi sede da Capitania do Rio de Janeiro.

Coube ao engenheiro militar português José Fernandes Alpoim edificar o novo prédio no local em que funcionavam, desde 1699, a Casa da Moeda e o Armazém del Rey, onde eram guardados carregamentos de sal e de açúcar. A obra foi uma novidade porque, até então, as moradias eram invariavelmente construídas no alto dos morros. A população se referia à praça como Terreiro da Polé, nome popular do pelourinho, mas também como Largo do Carmo, em referência ao Convento do Carmo, de 1619, que existe até hoje, na esquina da Avenida Primeiro de Março com Rua Sete de Setembro.

Claraboia construída no período republicano (Fonte: museusdorio.com.br)

Com a transferência da sede do governo geral para a cidade, em 1763, a construção ficou conhecida como Palácio dos Vice-Reis. O primeiro deles, Dom Antônio Álvares da Cunha, era famoso pela tirania contra os adversários. É dessa fase a construção do cais e, também, do chafariz do Mestre Valentim, datado de 1789, que abastecia de água potável tanto os navios quanto as habitações do entorno.

Fase áurea

Com a chegada da família real, em 1808, o nome mudou novamente, para Paço Real, e o endereço se tornou sede administrativa do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves até 1822, quando, finalmente, passou a ser referido como Paço Imperial. Antes da mudança para o Paço de São Cristóvão, os membros da família do príncipe regente Dom João ocupavam apenas o andar térreo. No piso superior ficavam os alojamentos dos fidalgos da corte. Como a comitiva era numerosa, contando cerca de 15 mil pessoas, foram requisitadas acomodações também no Convento do Carmo. As celas dos frades carmelitas eram ocupadas pela mãe de D. João, D. Maria I e suas damas, enquanto o prédio da Casa de Câmara e Cadeia Pública, onde hoje fica o Palácio Tiradentes, ficou destinado a acompanhantes e criados. Ambos os prédios eram ligados ao Paço por meio de pontes elevadas, chamadas de passadiços.

Detalhe do teto na Sala dos Arqueiros (Fonte: museusdorio.com.br)

Em 1817, foi construído o terceiro pavimento, ainda restrito ao lado da fachada voltada para o mar, que passou a ser destinado apenas ao rei e, mais tarde, aos imperadores. Após a mudança para a Quinta da Boa Vista, D. Carlota Joaquina, que não se entendia bem com o marido, D. João, preferiu permanecer com as filhas no Paço. No entanto, os despachos administrativos e as festividades importantes, como a aclamação de D. João VI a rei, em 1818, ou a recepção à D. Leopoldina para o casamento com o príncipe D. Pedro, continuaram ocorrendo no centro da cidade. Nessa época, as paredes externas ostentavam a cor amarela do Império, e na fachada se destacavam os balcões de ferro pintados de dourado.

Com o advento da República, o mobiliário foi leiloado e o prédio cedido ao Ministério da Instrução e dos Correios, então dirigido por Benjamin Constant, em 1890. Só não foi demolido para dar lugar à construção da nova sede do poder legislativo federal porque o senador Paulo de Frontin interferiu. Depois de passar por uma reforma em 1929, que completou todo o terceiro andar, foi tombado pelo patrimônio histórico em 1938, servindo como agência central dos Correios e Telégrafos até 1982, quando um processo de restauração de três anos devolveu as características da fase joanina. Assim surgia o Centro Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Ministério da Cultura (Iphan/MinC). Desde então, ele tem servido de palco para concertos, peças de teatro, exposições de arte contemporânea e eventos educacionais, além de dispor da Biblioteca Paulo Santos, de cinema, lojas e restaurantes.

Detalhes que chamam a atenção

Prédio na fase de cessão aos Correios, em 1900 (Foto: Marc Ferrez/Acervo IMS)

O piso na entrada do térreo é revestido de pedra de lioz, uma espécie de mármore português que servia de lastro aos navios. Dois cômodos, localizados abaixo e ao lado da escadaria na entrada e chamados de “segredos” foram encomendados por aquele primeiro vice-rei cruel, Dom Antônio Álvares da Cunha, em 1776, para encarcerar seus opositores. Na área onde fica o Bistrô do Paço, vestígios de fixação de argolas parecem indicar que ali se localizava outra área utilizada como prisão e conhecida como “potência”, criada a mando do mesmo Conde da Cunha. Outra sala interessante, localizada nesse pavimento, é a Casa da Moeda, onde era fundido o ouro extraído em Minas Gerais. As moedas foram cunhadas ali até o ano de 1814. Eventualmente, o local também servia de cárcere, como no caso dos 700 franceses sobreviventes entre os 1.200 que acompanharam Jean-François Duclerc na invasão da cidade, em 1710.

Sala dos Arqueiros (Fonte: museusdorio.com.br)

No primeiro andar fica uma série de espaços importantes. A biblioteca tem um acervo doado pelo arquiteto e historiador de arte Paulo Santos ao Iphan em 1984, que conta com cerca de oito mil volumes. Duas das salas serviram para iniciativas literárias: a Academia dos Felizes, poetas que ali se reuniam a partir de 1736; e a Academia dos Seletos, que sucedeu a primeira em 1752. A Sala Mestre Valentim serviu de aposento para os vice-reis e, mais tarde, foi ocupada por D. Carlota Joaquina e as princesas. Da janela da Sala do Dossel, D. Pedro I anunciou, em 1822, que não retornaria a Portugal, como determinado pela Coroa, no evento conhecido como o Dia do Fico. Na Sala do Trono aconteciam as cerimônias do beija-mão. De suas janelas os soberanos eram aclamados ou se despediam. Instalados no balcão da Sala Treze de Maio, a Princesa Isabel e o Conde d’Eu receberam os aplausos pela assinatura da Lei Áurea, em 1888. A Sala Gomes Freire de Andrade homenageia o governador que deu origem ao Paço. A Sala dos Arqueiros recebeu esse nome em referência à guarda real que ficava naquele espaço, muito embora a claraboia tenha sido construída durante o período republicano, assim como os rendilhados junto ao teto.

Serviço:

Paço Imperial

Praça Quinze de Novembro, 48 – Centro

2215-2093

De terça-feira a domingo, das 12h às 18h

Entrada franca

 

Fontes:

Paço Imperial: Roteiro para Visita Histórica. Rio de Janeiro: Paço Imperial, 2000.

Site do Instituto Moreira Salles

Site Museus do Rio

 
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